quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Por que não reduzem o intervalo entre uma olimpíada e outra?


Considero uma tremenda besteira essa de o Comitê Olímpico Internacional (COI) incentivar uma disputa absurda entre países respeitáveis para sediar uma competição esportiva tão abrangente para daqui a sete anos. É lógico que quase todo mundo quer ter o privilégio de organizar uma olimpíada em casa. Por isso tantas candidaturas com potencial considerável. Daí então, a pergunta: por que não reduzir o intervalo de tempo entre uma olimpíada e outra, passando dos atuais quatro anos para dois?
Para mim, na verdade, o que o COI ainda não entendeu, assim como a FIFA, que organiza a Copa do Mundo de futebol, é que nos últimos 50 anos, ao menos, o mundo cresceu, ficou mais veloz, mais voraz, mais intenso, mais curto, mais astuto, mais sedento por grandes eventos. As distâncias diminuíram. Além disso, em quatro anos, muitas vezes se acaba o ciclo vital de um atleta.
Então, insisto, por que não encurtar o tempo entre uma olimpíada e outra. Acredito que seria viável. E ainda acabaria contemplando muito mais cidades, já que muitas se dispõem a gastar os milhões exigidos para organizar o evento. A propósito, calcula-se que a China em 2008 tenha investido mais de US$ 60 bilhões e Londres, que será a sede em 2012, contabiliza até agora um gasto de R$ 120 bilhões.
Nessa reta final de escolha da sede para a olimpíada de 2016 continuam na briga o Rio de Janeiro (Brasil), Tóquio (Japão), Madri (Espanha) e Chicago (Estados Unidos). A decisão / escolha será nesta sexta-feira, dia 2 de outubro, na Dinamarca. E lá, a essa altura, todos os chefes de Estado representantes dos países concorrentes, além de celebridades influentes, já estão fazendo festa e pedindo voto. Até Lula, nosso presidente, foi lá peitar Barack Obama, o todo-poderoso dos Estados Unidos.
No caso do Rio, que tem boas chances de ganhar a disputa, falam que o investimento será de R$ 100 milhões. Algo considerável. Ainda mais quando se leva em conta que nós aqui precisamos mesmo é de investimentos urgentes em educação, saúde, transportes e segurança. Para ficar só nessas áreas. Mas mesmo assim adianto que não sou contra a vinda da olimpíada, e sim contra a periodicidade do rodízio, que considero muito grande.
E já que falamos em investimentos brasileiros, não custa lembrar que esporte no Brasil nunca foi tratado com seriedade. Nunca foi prioridade em governo algum. Os exemplos são muitos. Mesmo atletas olímpicos de ponta, como Diego Hipólito, da Ginástica, precisam mendigar junto a órgãos públicos e privados para se manter no esporte. Apenas alguns poucos privilegiados no futebol e vôlei conseguem respirar aliviados quando o assunto envolve o bolso. Nos demais casos, é puro sacrifício mesmo. Então será que a vinda de uma olimpíada mudaria algo nesse sentido? Com a palavra, os políticos brasileiros.

Gilson Sousa

Cleomar, irmão de fé, camarada


Chico Ribeiro Neto é jornalista (chicoribe@gmail.com)

Minha amiga Leda Fróes, médica anestesista, depois que conheceu o jornalista Cleomar Ribeiro Brandi, meu irmão, em Aracaju, com as duas pernas amputadas, colostomizado, trabalhando no Jornal da Cidade e na TV Aperipê e com uma imensa vontade de viver, me disse:
"Agora, quando tenho qualquer problema na vida, penso logo em Cleomar. Se ele pode enfrentar todos os problemas dele, o meu agora não é nada".
Cleomar, que virou parâmetro de vida não só para Leda, como para muita gente, lançou no último dia 24 seu primeiro livro, “Os Segredos da Loba”, com 71 crônicas, capa e ilustrações do artista plástico Leonardo Alencar, conhecido internacionalmente. A edição foi promovida pelo Governo de Sergipe e Fundação Aperipê.
Para o poeta e professor Gilfrancisco, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, “Cleomar é um professsor de vida que todo aluno gostaria de ter”, e completa: “Cléo é um poeta sensível, de alma romântica, reflexivo, amigo dos seus amigos, um cultor apaixonado da lealdade, um coração aberto para fazer o bem a todos que transitam no âmbito de sua atuação”.
Há 25 anos em Aracaju, Cleomar conseguiu vender mais de 250 livros na noite de lançamento que contou com a presença de muitas autoridades, inclusive o governador Marcelo Déda, jornalistas, professores e, é claro, boêmios.
O jornalista Marcos Cardoso, que apresenta o livro, diz que Cleomar “é um bem público, um patrimônio que deve ser preservado e cultuado. Um monumento vivo e andante. Ele transmite, acima de tudo, vontade de viver. É ativo, quer estar nos lugares com as pessoas. É atuante e muito mais ativo do que a maioria das pessoas que conheço”.
O jornalista Gilson Sousa, que também escreve na apresentação do livro, afirma que Cleomar “é um autor que bebe em várias fontes, mas é principalmente na vontade de viver intensamente os instantes que Cleomar Brandi encontra forças e sabedoria para produzir tanto”.
Dono de um fantástico senso de humor, quando amputou a segunda perna, já em Aracaju, promoveu a Festa da Meia, onde distribuiu todas que tinha.
Ele foi o melhor lateral esquerdo nos “babas” e me defendia dos meninos mais velhos com os quais eu procurava briga. Não gostava de estudar e foi campeão de natação pelo Vitória.
Em Salvador, dois meninos ainda pescam quatinga numa pedra da Praia da Preguiça onde só se chega nadando. Eles se chamam Chico e Cleomar.


A foto é de Jorge Henrique

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Número de famintos no mundo passa de 1 bilhão. Isso é justo?


Longe de mim ser dramático nesta hora, mas enquanto você fica escolhendo pratos de comida no dia a dia, enquanto fica admirando novelas da rede Globo, enquanto fica esbanjando riqueza material, exaltando a moda no vestuário, mergulhando a vida em coisas fúteis, justamente nesta semana o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU informou que, pela primeira vez, o número de pessoas com fome no mundo passou de um bilhão. Ou seja, existem hoje 1,020 bilhão de famintos no planeta. E você com isso, né? Pois é. Saiba que são cerca de 510 estados de Sergipe cheinhos de gente passando fome. Gente sem ter o que comer no cotidiano, para ser mais claro.
"Este ano, temos mais famintos que nunca", afirmou Josette Sheeran, diretora do PMA em Londres. Na entrevista que concedeu, ela fez questão de lembrar que “muitas pessoas acordam e não têm nada para comer”. E não precisamos ir muito longe para constatar essa realidade. Por aqui, da Vila do Queijo, na Atalaia, aos becos de Poço Redondo, no sertão, encontramos gente passando fome. É muita gente mesmo sobrevivendo abaixo da linha da miséria, apesar de todos os programas sociais implementados pelos governos nos últimos anos.
A propósito, outro dado da PMA chamou a atenção do mundo. Segundo Sheeran, atualmente o fluxo da ajuda humanitária é o menor da história. Ou seja, tem menos gente ajudando do que no habitual. Isso porque as pessoas, acredito, estão muito mais preocupadas com o seu umbigo, já que essa história de crise econômica mundial é balela. Pelo menos para mim. Já a senhora Sheeran prefere atribuir o fato a "duas tempestades que coincidiram e estão superando": os efeitos da crise financeira internacional e do encarecimento dos alimentos.
Aliás, a diretora do PMA anunciou ainda que o Programa enfrenta "um grave déficit fiscal". Sheeran disse que este ano só receberam US$ 2,6 bilhões dos US$ 6,7 bilhões necessários para distribuir alimentos a 108 milhões de pessoas em 74 países. Ela assegurou ainda que, com "menos de 1% das injeções feitas pelos governos para salvar o sistema financeiro internacional, seria possível acabar com a fome de milhões de pessoas". Muito lógico, isso.
Mas enquanto o povo morre de fome mundo afora, por aqui, na nossa mídia espetacular, os apresentadores ‘engraçadinhos’ do Jornal Hoje (Globo) exibem radiantes matéria sobre as dez maiores celebridades mais bem vestidas no mundo. Sendo assim, durma com um barulho desses!

Gilson Sousa

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ir às compras


Chico Ribeiro Neto é jornalista (chicoribe@gmail.com)

Não gosto e não sei ir às compras. Se for pra comprar uma camisa, fico logo com a segunda que gostei. Costumo dizer a minha filha que minha CS (cota de shopping) é de uma hora. Mais do que isso, dá vontade de ficar maluco, principalmente se for num dia de sábado.
Não gosto também de conversa de vendedor, principalmente daqueles que dizem “esse sapato é a cara do senhor”, ou dos outros que assim que lhe vendem uma calça perguntam logo se não vai querer um cinto, meia ou cueca, “aqui tem umas ótimas”.
Uma vez resolvi comprar filé mignon. Tinha recebido a quinzena no jornal e entrei todo rico no açougue, que estava cheio num sábado. O dono veio me atender e perguntei logo:
- Tem filé mignon?
- Tem, sim.
- Então me dê um quilo.
- Mas a gente só vende a peça inteira.
Morei em Porto Alegre quase um ano. No começo, foi difícil aprender os nomes dos pães. A nossa vara de pão, por exemplo, lá é chamada de bisnaga. Um dia, no supermercado, cheguei perto da padaria e, de repente, esqueci o nome gaúcho da vara de pão. Fiquei por ali, rodando, perto do balcão até que chegou um cara e gritou:
- Me dá uma bisnaga.
- E uma pra mim também – completei mais do que depressa.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A melancólica volta da censura em jornal


Com tristeza, vi ressurgir no âmbito da imprensa local a famigerada censura à informação. Não aquela nefasta dos tempos de ditadura militar, mas uma bem caseira, talvez mais cruel ainda. Explico: há duas semanas, fui comunicado por amigos policiais militares que o comando geral havia acabado de nomear para o posto de sub-ouvidor geral da PM/SE um cidadão chamado Geraldo José Leão de Oliveira, coronel. Até aí nada demais.
No posto, o citado oficial será encarregado, de certa forma, pela moralização da instituição e principalmente pelo feedback com a sociedade sergipana. Tarefa muito nobre, por sinal. Acontece que segundo meus amigos militares, o moço está envolvido até o pescoço com processos judiciais, indo da acusação pela utilização de viatura policial para interesses particulares até um envolvendo com estupro. Acreditem. Esse será o homem que irá ‘moralizar’ a instituição, aconselhar soldados e oficias, recomendar boas práticas e até orientar o comando.
Como homem da comunicação, passei a sugestão de pauta para o ex-aguerrido semanário Cinform. Nada de fazer a matéria. Dias depois passei para o Jornal da Cidade. Também nada. E com um agravante, já que não alegaram publicar a informação porque pessoas ligadas ao oficial trabalham no diário. Um absurdo. Até porque a nota sairia numa das colunas devidamente assinada, de inteira responsabilidade do jornalista. E mesmo assim foi censurada.
O que acho é que é profundamente lamentável o episódio. Em todos os sentidos. Fatos que interessam diretamente à sociedade sendo varridos para debaixo do tapete por motivos fúteis. Imaginem então quantas informações mais foram barradas nesse contexto.
No entanto, tenho certeza de que a sociedade merece ter essa informação sobre o coronel sub-ouvidor. Os próprios oficiais que integram as associações dos militares já fizeram questão de se manifestar contrários ao fato. “Não tenho nada pessoal contra o coronel Leão, mas se for para moralizar a tropa, ele não é o exemplo a ser seguido”, confessou o sargento Vieira. O alento é que na cola do coronel também estão o promotor de justiça Jarbas Adelino e o juiz Diógenes Barreto. Ótimas companhias.

Gilson Sousa

domingo, 13 de setembro de 2009

Dormir juntinho faz mal à saúde. É fato


A imprensa brasileira repercutiu essa semana o resultado de uma pesquisa britânica pra lá de curiosa. O especialista Neil Stanley, da Universidade de Surey (Inglaterra), concluiu que casais que dividem a mesma cama sofrem, em média, 50% mais perturbações do que os “solteiros”. E por que isso? Porque a disputa por cobertor, o ronco e parceiros que se mexem demais acabam atrapalhando consideravelmente o sono um do outro. Resultado, segundo Neil, é que uma noite mal dormida leva à depressão, estresse, doenças cardíacas, derrames, distúrbios respiratórios e até a acidentes de trânsito e no trabalho. Quer mais o quê?
O pesquisador disse ainda que a idéia de dormir juntinho é romântica, mas é basicamente uma questão cultural. Isso porque o costume de dormir na mesma cama surgiu com a revolução industrial e a urbanização da população. Muito mais pela necessidade de aproveitar o espaço, pequeno e caro, do que por romantismo. Aliás, Neil Stanley assegura que quem não dorme bem ao lado do parceiro (a) deveria pensar seriamente em adotar o costume da Roma antiga, quando o casal tinha uma cama, mas ela servia para o sexo, não para o sono.
Para mim, essa história toda tem lógica. É claro que de vez em quando dormir agarradinho, de conchinha, é uma maravilha. Mas que isso atrapalha o sono, atrapalha. Portanto, sou defensor da tese do pesquisador Neil Stanley: a cama em comum deverá servir para os insubstituíveis atos sexuais. De vez em quando servirá como espaço reservado e confortável para um bate-papo mais afeito, um cafuné em hora imprópria, uma afago mais quente. Mas na hora do sono, cada um pra sua cama.
Aliás, para os médicos ouvidos na pesquisa britânica, só há um jeito para não perder horas preciosas de sono: comprar uma cama bem grande e com cobertores separados. Pode ser, mas haja espaço no quarto. Até porque, segundo a própria ciência, a história de ficar abraçadinho a noite toda parece funcionar bem melhor nos romances de cinema do que na vida real.

Gilson Sousa

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pobres argentinos, pobres brasileiros...


Com a euforia da mídia nacional pela conquista antecipada da vaga na Copa do Mundo 2010, após o jogo de sábado contra a Argentina, eu até concordo. Mas comemorar exacerbadamente uma vitória diante dos hermanos, só porque o jogo foi na casa do adversário, isso eu discordo. É colocar em prática a baixa auto-estima do povo brasileiro. Tenham certeza, já que eles lá não estão nem aí para a gente. Quer ver?
Pesquisa recentemente realizada naquele país revela que os argentinos nunca consideraram os brasileiros como seus maiores rivais. No máximo, alimentam uma certa rivalidade no futebol. E pronto. Para eles, que se sentem os verdadeiros europeus da América do Sul, o rival histórico era o Uruguai. Isso até acontecer a famigerada Guerra das Malvinas, em 1982, disputada contra a Inglaterra. Como perderam a guerra, a Inglaterra passou a ser o país rival do povo argentino. Nada de Brasil nessa história. Portanto, não precisamos odiá-los tanto, nem muito menos se sentir no céu porque ganhamos um jogo para eles. Afinal, quem é o penta campeão mundial?
A propósito, o Uruguai sim poderia ser o nosso grande rival. Aquele país derrotou o time brasileiro numa final de copa em pleno Maracanã, em 1950. Já bateu o Brasil inúmeras vezes em edições da Copa América e por aí afora. É certo que hoje em dia o time não anda muito bem das pernas, mas esse seria o nosso deleite. Ter um rival enfraquecido e longe de nos alcançar.
E vou mais longe. Tá na hora, definitivamente, de a mídia nacional enterrar essa história de querer comparar Maradona com Pelé, o jogador incontestável. Jamais vou tirar o mérito do craque argentino, que jogou muito, mas que poderia ser comparado a Zico, por exemplo. A diferença é que o Galinho de Quintino não conseguiu, infelizmente, levantar uma taça de Copa do Mundo. Mas comandou a melhor seleção que o mundo já viu numa copa, a de 1982. Jogou muita bola e dá exemplo fora de campo. Já o contrário...

Gilson Sousa

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O bom trabalho de Cristian e o salário de ministro do STF


Fazer jornalismo em Sergipe é um ato heróico. Não que a profissão por aqui seja de extrema dificuldade no decorrer do exercício, mas é que o amadorismo é tão gritante, que enche de tristeza muita gente bem intencionada. Por isso é sempre bom destacar quem de fato consegue, ou ao menos tenta, fazer a coisa certa.
Digo isso para citar o trabalho combativo e corajoso do colega Cristian Góes, no seu blog http://cristiangoes.blogspot.com. É claro que é quase sempre polêmico, apimentado. Pisa no calo de muita gente, principalmente dos gestores públicos, mas tem compromisso com o fato verdadeiro. A única coisa que lamento é que acaba servindo de munição para políticos oportunistas que sempre trabalharam contra o povo e agora se colocam na posição de cobradores daquilo que nunca fizeram. Mas é o preço do jornalismo sério.
A propósito, pode não ter nada a ver, mas fiquei estarrecido com nota na coluna de Cristian desta semana: o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal vai ter reajuste e passará dos atuais R$ 24.500,00 para R$ 27.716,00 a partir de 1º de janeiro de 2010. É mole? E continua a nota: este aumento que vai atingir apenas 38 ministros ativos e inativos do Supremo e o procurador-geral da República provocará um efeito cascata nos demais salários, especialmente do Judiciário, que estão atrelados ao vencimento dos ministros do STF.
E mais: o resultado desse aumentozinho para os ministros vai elevar os gastos públicos em pelo menos R$ 157 milhões por ano. Na mesma linha dos ministros do STF, os delegados da Polícia Civil nos Estados e os promotores de Justiça também querem reajustes. Então, ta bom... E vocês sabem qual o valor do salário mínimo no próximo ano: “De acordo com os dados, o crescimento do PIB foi estimado em 4,5% e o salário mínimo foi fixado em R$ 505,90, o que representa um aumento nominal de 8,8% em relação ao salário de agora, que é de R$ 465,00”, informou a coluna de Cristian.
Então cadê a nossa imprensa, nacional e local, para manifestar-se contra tais absurdos?

Gilson Sousa