sábado, 23 de janeiro de 2010
Ali mora um menino
Chico Ribeiro Neto (chicoribe@gmail.com.br)
Ando sempre até o Porto da Barra e depois estico um pouco, pelo fundo do Iate Clube. Com a maré vazia, consigo ver as pedras da minha infância.
Menino, lá pelos dez ou onze anos, a gente saía em turma da Praia do Unhão, com a maré vazia, caminhando pelas pedras. Era uma festa.
A gente passava pela Gamboa, descia mais um pouco e já estava nos quintais dos casarões da Vitória. Era a hora de roubar manga e jaca dos quintais. Os empregados das mansões jogavam grandes pedras a rolar pela encosta. O aviso era: “Lá vem torpedo!”. E todo mundo corria, alguns se abrigavam atrás de um tronco de mangueira e só ouviam a porrada do torpedo chegando.
Era uma festa, uma verdadeira celebração de infância. Me lembro do dia em que entramos de penetra no baile infantil do Iate Clube, às quatro da tarde, com a roupa na cabeça. E depois que chegamos até a piscina, um de nós gritou: “Papai tá chamando lá em cima”.
Mas festa boa também era na bóia da Panair. Tinha um amigo de infância que o pai trabalhava na Panair e deu pra ele uma câmara de ar de pneu de avião. Era um sucesso na Praia da Unhão.
Sucesso maior era quando vinham duas filhas de pescadores, cada uma mais gostosa do que a outra, pedir para dar uma volta. E aí chovia menino. A bóia no meio do mar, as duas de maiô na beirada, e todo mundo em volta. Parecia um bando de piranhas atacando. Às vezes, uma delas ia para o meio da bóia, onde era mais fácil pegar.
Na volta pra casa, felizes e molhados, um perguntava ao outro: “Você pegou aonde?”
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