quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pisei em solo de Cleomar


Durante anos de amizade e certa cumplicidade com Cleomar Brandi, que faleceu em julho do ano passado, sempre ouvi histórias e mais histórias de um lugar chamado Ipiaú, sua terra natal. Sem dúvida, era um nome novo para todos os aracajuanos, até porque a Bahia tem mais de 400 municípios e ninguém é obrigado a conhecer um por um. Mas Ipiaú caiu no gosto da gente por conta justamente, é claro, da devoção de Cleomar ao torrão natal.
Dito isso, na semana passada, um dia antes do aniversário de nascimento do velho amigo que se foi, arrumei a mochila e parti rumo a Ipiaú, coisa de mais ou menos uns 700 quilômetros daqui. E haja paisagem pela janela do ônibus da Gontijo até Ilhéus, destino mais próximo. Mas enfim, depois de quase 12 horas de viagem, cheguei a Ipiaú. Uma típica cidade do interior brasileiro. Tem de tudo um pouco. Vasculhei o território de ponta a ponta. Pisei em solo de Cleomar.
Andei pela rua 2 de Julho, na qual ele e seus irmãos nasceram e viveram a infância; passeei pela praça Ruy Barbosa, ponto da cidade que marcou a gurizada; percorri as margens do rio das Contas, a maior referência da infância de Cleomar; conversei com muita gente da cidade, bebi cerveja gelada nos barzinhos do centro; fiz amizade com o jornalista local Zé Américo; e até concedi entrevista na rádio Educadora de Ipiaú. Ou seja, uma viagem proveitosa.
A cidade onde nasceu Cleomar Brandi, cravada na região cacaueira da Bahia, é pequena e organizada. Tem um excelente povo devoto de São Roque, um comércio respeitável e uma acolhida que não faz inveja a cidade alguma da Bahia. Tudo do jeito que Cleomar preconizava. Aliás, saí de lá com a informação de que nosso Cleomar Brandi (e deles também) vai virar nome de rua na cidade. Uma homenagem justa a um filho ilustre. Vida longa a Ipiaú.

Gilson Sousa

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O réveillon da minha prima


E eu que pensei que começaria 2012 sossegado. Mergulhado num mar de tranqüilidade porque minha prima tinha ido pra Capela, e eu, enfim, ficaria uns dias serenado em meu apartamento. Mas que nada. Nem bem amanheceu o primeiro dia do ano e olhe ela de volta. Cheia de ziriguidum e disse-me-disse. Reclamando da vida porque alega que comeu demais no Natal e no réveillon e está muito ‘cheinha’. Bem feito.
Eu continuo não dando bola pra essa moça de tanta sibiteza. Só tolero em minha casa para confortar tio Herinaldo, que já foi pro céu, e tia Malvina, que sequer enxerga mais. Mas essa prima não merece. Eu percebi que ela chegou com um bafo de goró retado. Já veio me enjoando. Pediu para eu dar banho nela. É mole? Fiz que não ouvi. Fui me esconder na cozinha. Aí ela veio com um papo de ‘João sem braço’. Perguntou se eu tinha guardado peru para ela comer. ‘Oxente’, eu disse. ‘E você não tava reclamando que engordou?’. Mas ela nem liga.
Já estou percebendo que vou ter que aturar essa moça mais um bocado. Só para me engabelar, ela de vez em quando fica dizendo que gosta de mim. Diz que eu sou a salvação dela. Que faria qualquer coisa por mim. E diz até que me daria qualquer coisa, caso eu precisasse. Só que não caio nesse papo dela não. Ela gosta de me maltratar. Sabe que eu sou meio besta.
Ontem mesmo, antes de ir dormir, queria que eu fizesse cafuné nela. Pediu massagem nas coxas, pois tinha caminhado muito em Capela. Não fiz não. É muita ousadia. Mas aí ela fez um bico danado, pediu pelo amor de Deus e eu cedi. Mas só um pouquinho. Até porque ela pegou logo no sono. Tava cansada. No outro dia acordou me contando que sonhou com o estouro dos fogos de artifício dentro do quarto. Eu fiquei calado.

Gilson Sousa