segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vanessa é da mata e do coração


Ela pode até não ser a melhor cantora do Brasil em atividade, mas certamente é a mais festejada, mais atraente, mais simpática, mais formosa, mais evidente, mais presente, mais gostosa. É a que tem o melhor repertório do momento para um show ao vivo. É simplesmente uma gata, uma doçura de mulher, uma artista como poucas. É Vanessa da Mata.
Vibrei com o show dela hoje à noite aqui em Aracaju, da turnê Perfumes de Sim. Uma delícia de cantora, com músicas que estão na boca do público e inevitavelmente agradam pensamentos diversos. Aliás, o público foi coadjuvante no espetáculo. Músicas como ‘Ainda bem’, ‘Amado’ e ‘Boa sorte’ tiveram a participação total da platéia do Emes.
É claro que Vanessa está acostumada a isso, mas acredito que a cada apresentação ela sinta uma emoção distinta e satisfatória. Posso dizer que é uma cantora e compositora que cumpre bem o seu papel na atual fase da MPB. Qualquer dia desses, chega no patamar de uma Marisa Monte, uma Bethânia, uma Zizi Possi. Por enquanto, ela é a nossa paixão de momento. E olha que está cuidando muito bem desse apego.

Gilson Sousa

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Exercício da sergipanidade


Gilson Sousa (gilson.sousa@ig.com.br)

O 8 de julho que passou, sinceramente, ampliou uma atividade político-social que vem sendo empreendida em terras sergipanas desde que Marcelo Déda enveredou por cargos administrativos. Trata-se do resgate da auto-estima de um povo. Sem falsas modéstias. Nenhum governante de antes havia demonstrado preocupação alguma com este fato. Déda, sim. E aqui não vai nenhum elogio gratuito à sua atuação, pois não fez mais do que sua obrigação de sergipano.
Essa elevação de auto-estima se caracteriza de várias maneiras. Pelo o que sei, o simples ato de beneficiar uma rua de periferia com drenagem e pavimentação de boa qualidade, já ajuda. Os investimentos, muitas vezes exagerados, em espetáculos artísticos abertos ao público também contam. A postura séria e responsável diante das câmeras nacionais é um avanço. O zelo com o bem público representa um alento. E tudo isso sem falar no discurso real da sergipanidade.
A propósito, como escreveu certa vez o historiador Luiz Antonio Barreto, o 8 de julho de 1820, dia em que Sergipe foi emancipado politicamente da Bahia, tem sido convertido no símbolo da liberdade, da independência, da autonomia econômica, da construção da sociedade sergipana. E isso foi o que motivou esta crônica. Neste 2009, constatei um 8 de julho mais movimentado, mais intenso, cheio de significado e chamando a atenção de todos nós em relação ao amor à terra em que nascemos e vivemos. Um progresso.
Confesso que por enquanto sou um dos poucos bairristas convictos que existem por aqui. Aliás, sou um homem afeito a extremidades. Gosto de saborear a palavra auto-estima, quando o assunto é naturalidade. Não engulo com facilidade aquela história de que somos o menor Estado do país e por isso temos pouca ou quase nenhuma representatividade sobre vários aspectos. Isso não cola. A gente sergipana é tão brasileira quanto qualquer outra, de qualquer outra parte deste país continental. Nada a contestar.
Aliás, sei muito bem que vivemos cercados de estrangeiros, no bom sentido da palavra. Não há por aqui quem não tenha na família, seja lá em qualquer grau, um integrante nascido em terras alhures. Nas rodas de amizade há sempre aqueles bacanas que adotaram nossa terra e daqui não arredam pé. Sentem-se confortáveis, estáveis. Chegam a propalar por aí que vivem no melhor lugar do mundo, apesar das deficiências. Então, se é assim, por que nós mesmos não tomamos conta deste orgulho?
Às vezes me pergunto se em outros cantos deste país a situação se repete. Acho até que não. Por muitos anos vivemos imprensados entre culturas forasteiras e praticamente condenados a engolir porcarias que nunca se identificaram com a gente. Agora temos uma chance real de mudar o quadro. E para isso não precisa radicalizar contra ninguém. Basta impor o que temos de bom. Dar ouvidos à nossa música, apreciar nosso folclore, aplaudir nossa dança, valorizar nossa política social, divulgar nossa culinária, elogiar a beleza do nosso povo, preservar nossa história, enfim, exercer a sergipanidade. É saudável.

Desejo reprimido


Gilson Sousa


Era parcimonioso demais aquele rapaz. A moça só faltava esfregar o xibiu na cara dele. E nada. Também pudera, a mãe de Robisvanilson tinha dado uma educação meio estranha para o menino. Não tinha carrinho de lata, não tinha pião de madeira, não tinha pé de manga no quintal. Tinha era muita reza, dia e noite. Ninguém sabia pra quê. E acho que por isso Robisvanilson tenha ficado tão aluado agora que cresceu.
A moça danada trabalha no elevador da repartição. Suzaneide era o nome. Pelo visto, está acostumada a subir e descer com boa desenvoltura. Bonitinha, a peste. Dizem que estuda numa faculdade. Mas não tem cara, não. Ela gosta mesmo é de provocar Robisvanilson. Dia desses, inventou de ficar lendo uma bíblia, enquanto trabalhava. Boa estratégia. Perguntava coisas curiosas para o rapaz, mas ele fingia que não era com ele. Um aluado, na certa.
Pelo o que dizem, Robisvanilson não tem namorada nem nunca teve. Um donzelo do século 21, sem cerimônias. Suzaneide sabia disso. Tanto que a moça investia cada vez mais na insistência. Jogava duro. Mas o camarada era parcimonioso demais mesmo. Moço educado e respeitador. Algo pouco encontrado por aqui, mas que enchia de orgulho os pais e demais familiares do desprezador de mulheres.
O fato é que na semana passada, incentivada por algumas amigas atordoadas com o sofrimento da moça sibite, Suzaneide resolveu dar a cartada final. Comprou um vestido decente, uma sandália bacana, um perfume respeitador e foi no culto da igreja de Robisvanilson, lá no Bugio.
Estava ela decidida a furar o bloqueio. Sentou num banco perto do rapaz, cumprimentou a mãe dele, piscou um olho discretamente, ajeitou o decote, passou a mão no caleo e sussurrou no ouvido do moço: “Precisamos cumprir uma das lições de Deus e nos entregar à reprodução”, disse ela, para o espanto indescritível do moço respeitador.
“É agora ou nunca, Robinho...”, insistiu ela, antes de ouvir um grito alucinado no meio da igreja. “Senhor proteja-me, a gripe suína está entre nós. Valei-me, Jesus!.
Valei-me, irmãos!”. Foi aí que o pastor Adroaldo, muito dedicado aos adolescentes, não perdeu tempo e abraçou com força e carinho o filho de Deus em perigo. Uma comoção. E Suzaneide não teve tempo nem de lamentar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

No meio da passeata


Chico Ribeiro Neto (chicoribe@gmail.com) é jornalista

Aconteceu há uma semana. Tive que ir à Mouraria e – como sempre vou ao Centro de Salvador de ônibus e aparece muita lembrança -, resolvi voltar andando pela Avenida Joana Angélica. Foi quando, defronte ao Colégio Central, tive que passar pelo meio de uma passeata. Foi um verdadeiro ziguezague de recordações.
Há 40 anos vivíamos numa ditadura militar e o Brasil fervilhava de manifestações. Em 1966 eu era expulso do Central juntamente com os integrantes do Gateb, o Grupo Amador de Teatro Estudantil da Bahia, depois que foi censurada a peça “Aventuras e Desventuras de um Estudante”, de Carlos Sarno, o que desencadeou uma série de protestos estudantis, culminando com uma greve geral estudantil, secundarista e universitária.
Depois da peça censurada, resolvemos montá-la no Restaurante Universitário, na Vitória. As mesas juntas formavam o palco. Eu era o narrador e abria a peça. Na minha primeira fala, começou um corre-corre. Agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) comandaram a repressão. Me refugiei no quarto de um dos estudantes, enquanto a confusão aumentava e os policiais espancavam. A repressão fechou o cerco na cidade e alguns colegas do Gateb foram torturados e presos.
Nossas passeatas de 66 gritavam por liberdade, “abaixo a ditadura”, “abaixo o acordo MEC-Usaid”. Hoje, na porta do Central, as palavras de ordem são pelo passe livre de ônibus e também por maiores facilidades de acesso ao ensino superior.
Os tempos mudaram, mas os ideais são os mesmos. A passeata ficou mais alegre, talvez. Meninas dançavam axé à frente do carro de som. Tive vontade de pedir o microfone a um deles e gritar: “A luta continua, eu também gritei nas ruas, eu também tive esperança de um país melhor, e me esforço para continuar tendo”. Me contive e apressei os passos à frente da passeata. A cabeça dava voltas no passado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sou favorável às cotas na UFS. E você?


Há tempos venho prestando atenção nessa acirrada discussão da sociedade sobre cotas nas universidades públicas. Sou favorável às referidas reservas de vagas para negros, índios e estudantes de escolas públicas, sim. Com muita convicção. Mas ouço sempre as ponderações. Afinal, nascer com pele branca e viver nas benesses da classe média neste país é tarefa fácil, diante das dificuldades que enfrentam os irmãos de cor. Diga que não é!
Ontem, num telejornal local, vi o reitor da Universidade Federal de Sergipe, Josué Modesto, fazendo uma explanação e defendendo categoricamente o sistema que começa a ser adotado na instituição este ano. Por aqui, 50% das vagas no vestibular estão destinadas aos alunos oriundos de escolas públicas, sendo que desses 50%, 70% vai para negros e índios. Muito bacana, isso. Aplausos para a UFS.
Curioso foi ouvir o argumento de uma moça contrária ao sistema de reservas de vagas. Segundo ela, nos últimos dez anos vem se sacrificando ao máximo para pagar as mensalidades dos filhos nas melhores escolas particulares de Aracaju. Gasta cerca de R$ 1,5 mil por mês e por isso não se conforma com a possibilidade real de ter que ver seus filhos disputando apenas 50% das vagas em medicina. Ora, bolas. Mande seus filhos estudar mais um pouquinho, minha senhora. Afinal, estão nas melhores escolas da cidade.
Então é isso. O que sei é que na história da humanidade, nenhuma revolução foi levada à prática rodeada em louros. Ainda mais quando se trata de uma revolução no campo das injustiças sociais. As contestações, as intolerâncias, as incompreensões e as agressões sempre fazem parte do cardápio daqueles que se dizem contrários. Em geral, são pessoas que não conseguem enxergar um palmo sequer à frente do nariz. Não pensam na coletividade e vivem buscando argumentos para justificar a necessidade de satisfazer o auto-ego.
A propósito, falando em cotas para negros, toda aquela história de que se trata de uma reparação por causa dos incontáveis anos de exclusão das minorias no Brasil tem sentido. Só não entende quem não quer entender. Aliás, meu amigo Fernando Conceição, um respeitado estudioso e militante da causa negra no país, defende uma política afirmativa muito mais ampla, incluindo a reparação financeira para afro-descendentes. Isso, é claro, porque já foi comprovado que nossos ancestrais foram forçados a vir para o Brasil na época da escravidão e seus descendentes jamais foram indenizados por isso. Será que não bastou?

Gilson Sousa

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Adeus a Célio Nunes


São muitos os colegas jornalistas que nesta hora estão com os sentimentos abalados por conta do falecimento de Célio Nunes. É verdadeiramente uma perda irreparável. Um homem como poucos, que viveu intensamente à base da sua inteligência e proporcionou muita coisa boa nesse nosso jornalismo tão carente.
Sim, Célio Nunes morreu hoje. Morreu um dos jornalistas mais influentes e mais queridos neste Estado. Morreu um comunista convicto. Um literato. Um homem que semeou fatos importantes por onde passou. Um profissional apegado à qualidade do que fazia quando entrava numa redação de jornal e decifrava o mundo com suas palavras intrigantes.
Nos seus escritos, Célio era irônico, perspicaz, afável e agressivo ao mesmo tempo. Coisa que só os inteligentes conseguem fazer. Seja na crônica, no artigo, no conto. Por isso vamos ficar órfãos desse estilo para sempre.
Então vamos reverenciar aquele que foi capaz de criar um caderno cultural nesta cidade – o Arte e Literatura -, encartado no Jornal da Manhã, somente para desaguar a enorme produção literária que havia por aqui décadas passadas. Vamos reverenciar com orgulho aquele que brigou nas ruas do país contra o militarismo, foi preso, torturado, mas nunca largou seu ideal socialista de lado.
E Célio nos deixou. Foi juntar-se ao seu pai, Zé Nunes, outro comunista histórico que nos anos 60 e 70 esbravejou contra o regime de ditadura ao lado do meu pai, Luiz Pedro. E agora estão todos lá, não sei onde. Sei que cumpriram bem a missão aqui na Terra. Meu pai, meu amigo Célio, serei eternamente grato a vocês pelos ensinamentos e aberturas.
A propósito, nunca é demais lembrar que toda a minha relação com o jornalismo teve a participação vital de Célio Nunes. Foi o primeiro a me convidar para trabalhar numa redação em 1989. Foi o primeiro a colocar sua assinatura na minha carteira de trabalho novinha em folha. Foi o primeiro a abrir portas para mim. Foi e continuará sendo um mestre.
Que Deus proteja a sua alma, meu amigo Célio.

Gilson Sousa

Na foto, de 1990, estão Jackson da Silva Lima, José Carlos Teixeira, Santo Souza, eu, Jeová Santana e Célio Nunes.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aqui tem até ladrão de urubu


É bem sacana esse camarada que surrupiou o urubu albino do Parque dos Falcões em Itabaiana. Fiquei puto com a história. Ainda mais depois que soube que o animal raro, de quatro meses de idade, está bastante debilitado e precisando de cuidados especiais. Torço para que a polícia aja com eficiência neste caso, já que tem em mãos algumas pistas dos suspeitos, segundo a imprensa.
O urubu branco havia sido encontrado num pasto em Nossa Senhora da Glória. Quando foi levado ao Parque dos Falcões, para ficar sob os cuidados do competente Percílio, ele estava debilitado e tinha ferimentos. Agora, depois que a ave rara foi recuperada e mostrada ao mundo pela mídia nacional, vem uns engraçadinhos e leva o bicho. O curioso, segundo os biólogos, é que por não enxergar tão bem quanto o urubu preto, o albino tem mais dificuldades para se defender dos predadores e encontrar alimento, o que faz dele uma presa fácil na natureza.
Aí, vem um amigo meu muito gaiato e solta essa: “Por enquanto a polícia tem apenas uma pista do ladrão. Acha que foi algum vascaíno racista, já que além de invejoso, acredita que o símbolo dos flamenguistas precisa manter suas características”. É mole?

Gilson Sousa

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Caça ao bandido


Para os jornalistas que recentemente perderam o diploma como requisito para o exercício da profissão e estão com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, atravessado na garganta, preparem suas colheres de pau, panelas, apitos e narizes de palhaço. O ministro estará em carne e osso no próximo dia 14, às 19 horas, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju. Mas, calma! Ele não irá interpretar nenhuma peça como coronel, senhor de engenho ou de exterminador de movimentos sociais.
Ele estará proferindo a palestra de encerramento da VIII Semana Jurídica Nacional promovida pela Universidade Tiradentes. E o Sindicato dos Jornalistas, juntamente com outras representações sindicais, estará na porta do TTB para 'recepcionar' o ilustre ministro – que disse que exercer o jornalismo é o mesmo que cozinhar ou costurar – com um ato público, com direito a apitaço, panelaço e narizes de palhaço, representando o ministro, claro.
"Vamos estar lá para mostrar toda a nossa indignação com o ministro que derrubou o diploma de jornalista e todo o nosso repúdio pelo seu voto estapafúrdio como relator, e para mostrar a sociedade que esse senhor, como bem disse o ministro Joaquim Barbosa, é uma vergonha para o Judiciário, como também para todo o povo brasileiro. E vamos engrossar o coro do ‘Fora, Gilmar Mendes’", avisa o presidente do Sindijor, George Washington.
"Aproveito para conclamar desde já a todos os estudantes, que tiveram o seu diploma desvalorizado e todo o investimento que fizeram perdido, graças ao voto do eminente ministro, e também aos colegas profissionais diplomados a se somarem a esse ato de repúdio ao presidente do STF, que tanto se notabiliza pelas suas perseguições aos trabalhadores e aos movimentos sociais, e agora por acabar com o nosso diploma", diz Washington.
Fonte: Sindijor/SE

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Que peste Calcinha Preta tem a ver com Michael Jackson?


Esta postagem está consideravelmente atrasada, mas o oportunismo da banda Calcinha Preta está atualizado até demais. Explico: cerca de dez dias após a morte de Michael Jackson, em 25 de junho deste ano, o empresário Gilton Andrade, dono da banda de pseudo-forró, executou uma jogada de mestre. Encomendou uma versão apelativa da música Ben, um dos maiores sucessos do astro americano, e mandou seu pessoal gravar em estúdio a toque de caixa como forma de homenagem ao rei do pop, Michael Jackson.
No dia seguinte à gravação, a música estava rolando nas emissoras fm daqui e de outros estados. Prova disso é o monte de comentários, positivos e negativos, em sites de música. O arranjo é incrivelmente idêntico ao original, com os vocais e tudo o mais. Mas a versão é piegas e apelativa. No entanto, fácil de comover os bestas.
A propósito, Ben foi o segundo álbum da carreira solo de Michael, lançado em agosto de 1972, sete meses depois de seu álbum de estréia, Got to Be There. A música rapidamente atingiu o primeiro lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos, vendendo mais de um milhão de cópias do disco. Já a banda Calcinha Preta, com o seu oportunismo, tem conquistado espaço considerável na mídia com a sua apelação. Vejam alguns versos da coisa: “Bem, já soube que você se foi/ Que saudade que em mim ficou/ De você nasceu o amor a quem mais precisou.../ Agora sei, dói em mim, você se foi infeliz”. É mole ou quer mais?

Gilson Sousa

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O caso da “anciã viril”


Chico Ribeiro Neto (chicoribe@gmail.com) é jornalista

O diretor do Ginásio São Bento me escolheu pra fazer o discurso no aniversário de Salvador. Perdi a noite em cima do caderno. O pior foi descobrir uma frase que falasse que Salvador, apesar de antiga, era moderna. Aí cometi a seguinte pérola: “Salvador, esta anciã viril...”
Os colegas me aplaudiram junto às bandeiras do Brasil e da Bahia e o diretor do Ginásio, D. Norberto Santana, apertou a minha mão, disse que gostou, mas observou: “Aquela imagem de anciã viril foi que não ficou muito boa”. Anos depois, meu irmão Cleomar gozava com minha cara: “Anciã viril é uma velhinha de pau duro”.
A cada aniversário de Salvador me lembro dessa história. De lá pra cá, a gente foi ficando mais velho.
Lembro que, voltando de uma festa, um grupo de umas 15 pessoas, as meninas iam a pé com o sapato alto nas mãos, andando pela Avenida Vasco da Gama, para chegar até a Praça da Sé e pegar o lotação de Barbalho. Era década de 60, quando o bolinho da Cubana era novidade e meu irmão mais velho contava as histórias do Café das Meninas, na Ajuda.
Fui de turma de rua, a Turma dos Aflitos, antes de chegar a TV Itapoan. Quando a TV chegou, todo mundo foi parar na sala da tia de Chico Canela, a única casa que já tinha o aparelho. Deixamos de roubar as bandeirinhas do 2 de Julho que os homens da Prefeitura penduravam nos postes na véspera da maior data da Bahia.
As pedras da praia do Unhão, onde mergulhei muito dos oito aos 16 anos, brilham na minha lembrança. Com um amigo, Zoinho, roubamos “madeirit” da construção da Avenida Contorno pra fazer uma catraia, um barquinho de madeira que Cleomar apelidou de “Minas Gerais”, em homenagem ao nosso poderoso porta-aviões.
“A rua toda namorou com as Irmãs Tripa”, diziam com algum exagero, mas as magrelas eram fogo.
Mergulho de novo no Unhão e lá do meio do mar, de onde a gente “avistava o Elevador Lacerda”, no caminho que a luz do sol formava até o horizonte quando era de tardinha, mando um beijo para esta amada anciã.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lugar de derrotados é na série D mesmo


Foi providencial o editorial lido pelo apresentador do Globo Esporte local hoje, segunda-feira, após a humilhante derrota do Confiança para o Icasa (CE) por 4 a 0, no domingo. De fato, aqueles rapazes que vestiam o uniforme azul e branco não são jogadores profissionais e muito menos o técnico entende de alguma coisa parecida com futebol. Era o jogo da vida do time, que deveria lutar, ao menos, para não ser rebaixado de série no campeonato brasileiro. Bastava um empate. Tiveram 15 dias só para treinamentos. Mas...
A TV Sergipe foi na veia. Agrediu, de forma verdadeira, mas deu o tom do merecimento àquele time. Foi feio, companheiros. Muito feio. O clube iludiu os torcedores no início do ano e acabou mostrando um nível de descompromisso e irresponsabilidade sem igual. Não dá para engolir a seco tamanho descaso. E depois de tudo, para nós, torcedores, fica claro somente que o Confiança irá figurar justamente no lugar que merece ficar por muito tempo. Na série D, dos derrotados.

Gilson Sousa