quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010 a todos nós!


Acordei hoje ligando a mente e despejando uma espécie de retrospectiva 2009 de minha vida e as coisas que aconteceram ao meu redor nos últimos 365 dias. Um exercício bacana. Um desafio memorial em busca das alegrias, angústias, conquistas, perdas, enfim.
Para meu alívio, a conclusão é que nada saiu do eixo nesse ano que se finda. É claro que certos tropeços me arrebataram. Mas os acertos, as conquistas, as aberturas, as confirmações... tudo isso falou mais alto.
Portanto, a hora é de agradecer a Deus pela vida vitoriosa, torcer por um 2010 mais promissor ainda e desejar aos amigos e afins uma nova etapa de sucessos na plenitude. Que venha o Ano Novo. Que venham os desafios. Assim como eu, acredito que todos nós estaremos prontos para atravessá-los de maneira digna e eficaz.

Gilson Sousa

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Momento Baudeleire: revisitando a dor


“Apenas é igual a outro quem prova sê-lo e apenas é digno da liberdade quem a sabe conquistar”
Charles Baudelaire


2009 terminava ainda naquela semana e já entrava para a história dele como um ano daqueles que nem fede nem cheira. Era a primeira das décadas do novo século indo embora. E ele sem nunca ter tido turma nenhuma. Sempre amargo. Anos após anos. Aliás, achava que o mundo era hipócrita demais para cultivar convivências. E talvez por isso não queria celebrar coisa alguma. “Adeus 2009”, bastava-lhe dizer.
Naquela noite, enquanto pessoas incomuns planejavam festas, a cabeça dele estava a mil. Sempre questionando condutas alheias. Sempre se penitenciando não se sabe por quê. A única clareza é que era avesso a pessoas. Décadas e décadas se passando. Olhos de traíras rondando sua vida. Mentes inúteis e até bestas demais se apresentando no dia a dia. Nada de contento. As horas passando e 2009 indo pra bem longe de sua história.
Quem sabe nessa nova década algo mude. Ou até mesmo no aproximado 2010. Ano do Tigre, segundo os chineses. Mas pelo visto, ele não acredita em nada. Pessoas o assustam. “Mentes bestas”, repete. Faz questão de fracassar em tudo. Até porque não acredita em quase nada mesmo. Talvez nele, quem sabe. Mas precisa fugir disso. Fugir dele e do mundo mergulhado em hipocrisias. Precisa logo. É quase quinta-feira, e essa festa não lhe parece trazer novidades.

Gilson Sousa

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Copo virado


Foi aquilo que você tinha previsto. Exatamente aquilo. Quando entrei no bar, ainda cedo, ninguém me percebeu. E eu fui o primeiro a me sentir ausente de mim mesmo. Sem o sorriso de antes. Sem a certeza do abraço. Sem braço também. Por um instante fiquei acuado. Mas esse álcool é desbravador. Bastou um instante mais sólido e eu comecei a lacrimejar. Pensei em você, pensei no mundo.
Foi tudo o que eu não esperava um dia. As paredes do coração desmoronando e eu sem poder fazer nada. Agora o bar estava repleto de fantasmas. Todos querendo me embriagar. E eu acuado, ainda. Procurando você, mas sem querer olhar pra você. Na vitrola, Chico Buarque cantarolava uma melodia triste. Na minha vitrine, um homem esquálido, sem pé, sem graça, sem cabeça.
Foi aí que eu me apavorei. Exatamente como você tinha previsto. Desabei quando você entrou no bar esbanjando paixão. Não mais por mim. Mas por quem, ao que parece, soube segurar na sua mão. Eu não. Procurei apenas mergulhar no meu copo. Olhei pra mim mesma e me percebi. Virei e quando fui embora, deu ainda para ouvir o Chico dizer: “Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois, como era de costume, obedeci”.

Gilson Sousa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Impostos desumanos


Ainda me espanta a voracidade com que esse governo federal arrecada impostos da população e setores produtivos. Estamos carecas de saber que nós brasileiros dormimos sob o peso de uma das maiores cargas tributárias do mundo. E cadê a tal contrapartida? “Quem vê morre”, como diria minha mãe Marita.
Pois bem. Nesta semana dei de cara com uma notícia dessas que deixa a gente perplexo. “A arrecadação federal no mês de novembro superou em R$ 10 bilhões a do mesmo mês do ano passado, R$ 53,6 bilhões, um resultado recorde para o mês”, dizia o texto. “Esse resultado reflete o nível de atividade da economia e pode garantir o cumprimento da meta de superávit primário, de 2,5% do PIB para este ano, o que era considerado impossível por causa da crise e das desonerações promovidas pelo governo para diversos setores”, continuava.
Paralelamente, vi reportagem na televisão mostrando que vários hospitais brasileiros irão deixar de atender pacientes em tratamento de hemodiálise porque o repasse do SUS não cobre as despesas. Aí o Ministério da Saúde logo se apressou em dizer que não podia fazer nada, pois já envia o que pode aos hospitais. É mole?. A gente vive mesmo num país de idiotas.
E enquanto isso, as mordomias governamentais se espalham pelo Brasil afora. É muita gente botando banca e ostentando riqueza com o dinheiro alheio. Esteja este em cuecas, meias ou bolsos de paletós. A farra é sempre grande. A solapada também. Pois enquanto os bilhões de impostos seguem rumos incertos, sem querer generalizar nada, certas ‘mordidas’ fazem com que as estradas continuam esburacadas, milhares de pessoas continuem vivendo sem saneamento básico, outra grande parcela sem acesso à moradia digna, enfim....


Gilson Sousa

domingo, 20 de dezembro de 2009

Nosso verão será mesmo dos outros. Paciência!


Por mais que eu queira ser um aracajuano bairrista, não dá para dizer que o governo pode ‘vender’ turisticamente o verão de Sergipe chamando o povo de fora para ver shows de Amorosa, Patrícia Polayne ou Maria Scombona na programação cultural à beira da praia. Seria pedir demais. Ninguém lá fora ouviu falar dessas criaturas, apesar de serem bons artistas. Aí cria-se aquele dilema: ou não são conhecidos porque não têm espaço na mídia nacional ou não têm o que mostrar e portanto não são conhecidos. Resultado: não atraem ninguém.
Tenho parentes e amigos no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Goiânia. Sempre que me perguntam sobre programação de shows no verão sou obrigado a dizer que por aqui vão estar Daniela Mercury, Vanessa da Mata, Olodum, Lenine, Margareth Menezes, Dudu Nobre, Carlinhos Brow, Skank, J. Quest, Martinália e Detonautas. Tudo artista de fora do Estado. Uma tristeza para a gente, mas é o que a realidade nos impõe.
A propósito, quero dizer que tirando o nome do inquieto Carlinhos Brow, temos aqui em Sergipe artistas no mesmo nível dos demais citados. Não no nível de mídia, como já coloquei, mas no nível de talento. Para compor, para tocar e para interpretar. Basta dar ouvidos a Pantera, Paulo Lobo, Joésia Ramos, Nino Karva, Minho San Liver, Rubens Lisboa, Cata Luzes, João Ventura e tantos outros. Mas quem é que já ouviu falar nesse povo, não é verdade?
Então que venha o verão 2010 patrocinado pelo poder público. Com seus artistas forasteiros recebendo cachês milionários e muitas vezes torcendo o nariz para o público local. É o que temos e o que merecemos, por ora. Um dia, quem sabe, não precisaremos mais contratar atores globais, com cachês astronômicos, para divulgar a imagem de governos na televisão. Um dia, quem sabe, olharemos para o próprio umbigo, não como meros bairristas, mas sim como defensores de uma cultura local. Uma cultura própria, quem sabe.

Gilson Sousa

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Jornalistas profissionais: esperança renovada

Está no site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj):
PEC dos Jornalistas é aprovada na CCJC do Senado

A PEC 33/09, que restitui a exigência do diploma de jornalista, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta quarta-feira (02/12). A PEC, de autoria do senador Valadares, foi aprovada por 20 votos contra dois. Posicionaram-se contra apenas os senadores Demóstenes Torres (DEM/GO) e ACM Júnior (DEM/BA). A matéria agora segue para apreciação em plenário.
“Os patrões vieram para a disputa e jogaram pesado”, conta o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. Prova disto foi o acompanhamento da reunião da CCJC pelo próprio presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Daniel Slaviero, que, antecedendo os debates, fez um corpo-a-corpo junto aos parlamentares, inclusive distribuindo panfleto da entidade.
Para Murillo, a presença de representantes do empresariado reforçou o que a FENAJ já vinha apontando, que a questão do diploma não está ligada às liberdades de expressão e de imprensa, mas sim às relações trabalhistas entre empregados e patrões. “Foi mais uma vitória importante do movimento pela qualificação do jornalismo”, disse o presidente da FENAJ. “Mas ainda temos muito trabalho pela frente”, completou, controlando o tom comemorativo de outros dirigentes da entidade e de Sindicatos de Jornalistas que o acompanhavam.
Nesta semana deve ocorrer, ainda, uma reunião entre os autores e relatores das PECs que tramitam na Câmara dos Deputados e do Senado, juntamente com a coordenação da Frente Parlamentar em Defesa do Diploma e com dirigentes da FENAJ. O objetivo da reunião é estabelecer ações para que a tramitação das matérias avance ainda mais em 2009.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Praia e Rocha: tudo a ver


Tenho acompanhado de perto a repercussão da proposta lançada ao público pelo colega jornalista Dílson Ramos (www.dilsonramos.blogspot.com) sobre uma possível mudança de nome na rodovia que beira as praias de Aruana, Robalo e Mosqueiro, em Aracaju. Até agora chama-se José Sarney, em homenagem ao senador cuja reputação é colocada à prova a todo instante. Todavia, a intenção de boa parte dos aracajuanos é mudar o nome, e a proposta de Dílson aponta para o nome de Gilvan Rocha.
Rocha, para quem não sabe, foi um brilhante senador oposicionista por Sergipe na época em que o país vivia dominado por uma ditadura militar. Passou por longe da corrupção. Nasceu em Propriá, foi médico e professor universitário, brilhante orador. Pertencia aos quadros do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e aqui em Sergipe superou nas urnas a Arena e sua maior liderança, Leandro Maciel. Portanto, a homenagem a Gilvan Rocha, em substituição ao indesejável Sarney, seria bem justa, caso o governo estadual se sensibilizasse com a causa. Atualmente, é bom frisar, existe apenas um condomínio do PAR, na Farolândia, com o nome dele. Muito pouco, considerando o porte do personagem.
A propósito, bastava o governo cumprir o que determina a lei. Isso porque as homenagens a pessoas vivas contrariam o disposto na Lei 6.454/77 e os próprios princípios constitucionais da legalidade, da moralidade e da impessoalidade, além da Resolução 497, de 20 de fevereiro de 2006, do Conselho da Justiça Federal (...). A legislação é claríssima: "é proibido, em todo o território nacional, atribuir nome de pessoa viva a bem público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da Administração indireta". Aí, muita coisa teria que mudar também nesse país afora.
Portanto, ficaria até mais legal, mais audível, falar em Praia do Rocha, ao invés de Sarney, como muita gente já se habituou ao citar algo sobre aquela região. Praia do Rocha. Vamos lá. Não tem rocha alguma na região da Aruana até o Mosqueiro, mas isso acabaria aguçando mais ainda a curiosidade de turistas que ficariam doidinhos em saber de onde veio esse tal Rocha no nome da praia. É ou não é?. Pense bem.


Gilson Sousa

domingo, 29 de novembro de 2009

É a vez do Mengão!


Todos os ventos e todos os deuses do futebol estão a favor do Flamengo nesta reta final de campeonato brasileiro. O time – meu time – é líder isolado. Venceu hoje o Corinthians por 2 a 0, em São Paulo, e basta uma vitória simples contra o Grêmio no Maracanã, domingo que vem, para levantar a taça pela primeira vez na era dos pontos corridos.
É claro que essa vitória fará um bem danado para o país. Eu, você e todo mundo sabe que mais da metade da população brasileira torce pelo Flamengo. O restante fica se mordendo o tempo todo. Muito mais do que um time de futebol, o Flamengo é uma Nação e portanto merece a admiração de todos.
Resta agora o time confirmar em campo todos os prognósticos favoráveis. No domingo que vem, 90 mil torcedores estarão no Maracanã. Outros milhares estarão em frente aos aparelhos de TV e telões desse Brasil afora acompanhando cada lance da partida. Será uma expectativa de 90 minutos que poderá acabar numa explosão de alegria jamais vista nestas terras.
Sim, porque o Flamengo vencendo um campeonato nacional pela sexta vez – a última vez foi em 1992 – a economia do país se movimenta, as pessoas ficam muito mais felizes, o futebol ganha mais graça, as crianças se divertem muito mais, os bares e restaurantes ganham mais dinheiro, os casais fazem muito mais sexo, os padres rezam missas mais festivas, os pais e mães liberam mais mesadas, enfim, a vida vira uma festa. E viva o Mengão, rumo ao hexa!

Gilson Sousa

sábado, 21 de novembro de 2009

O Leão rugiu, senhoras e senhores!


Avisem ao mundo: o Leão rugiu pra valer. Depois de 22 dias confinado num leito de UTI, no Hospital São Lucas, o velho guerreiro Cleomar Brandi recebeu alta médica e está indo se recuperar num apartamento do próprio hospital. Daqui a mais uns poucos dias estará em casa, onde receberá visitas e mais visitas dos amigos, admiradores e afins. Esse é o velho Cléo.
A propósito, o Leão mudou de aparência. Deixou de lado aquela velha barba e os cabelos longos, como na foto aí. Está praticamente de cara limpa, como se estivesse dando início a uma vida nova. O que não deixa de ser verdade. É o nosso Benjamim Button. Um renascimento espetacular. Ainda mais quando lembramos da angústia diária por conta do seu sofrimento durante a estressante estadia na UTI. Xô!
Cleomar, para quem não sabe, foi submetido a uma delicada cirurgia de retirada do intestino grosso. É que nele havia um incômodo e indesejável caroço. Mas foi embora, graça a Deus. Logo após essa primeira cirurgia, ainda no leito da UTI, Cleomar teve que fazer outra. Dessa vez uma hérnia de disco. Vida dura pro Leão de 63 anos.
Mas ele suportou. Aliás, ele suporta. Suporta a dor no corpo. A dor das escaras. A dor da solidão hospitalar. A dor da distância dos amigos. A dor da ausência do conhaque. A dor do coração inseguro. A dor de viver. “Minhas noites têm sido dolorosas, Negão. É a hora em que o filho chora e a mãe não vê, nem ouve”, disse-me Cleomar recentemente, apertando minha mão com força considerável e revelando com os olhos que a história está lhe dando outra chance para que todos nós possamos aprender com ele o que é realmente viver.

Gilson Sousa

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tatuagem com a cara da hipocrisia


Nos últimos anos, toda vez que ouço falar alguma coisa sobre a vida de Roberto Carlos fora dos palcos, acabo sendo surpreendido como um alto grau de canalhice daquele cantor. Que me perdoem os fãs mais ardorosos. Mas não suporto aquele ar de superioridade do cara, só porque foi ídolo de uma geração antiga, diga-se de passagem. Portanto, jamais iremos negar os méritos dele, mas também não dá para ficar engolindo corda a vida toda.
Sempre soube que ele, desde os tempos da jovem guarda, foi e é um sujeito discriminatório. Não é todo mundo que pode chegar perto dele. Ainda mais se estiver usando roupas cuja coloração não esteja de acordo com o estado de espírito dele. É mole? “É mole, mas sobe!”, como diria o nosso José Simão, da Folha de S. Paulo.
Pois bem. Eis que hoje eu abro a internet e vejo estampada na página principal do IG (www.ig.com.br): “Roberto Carlos dá entrevista para Adriane Galisteu e diz que fará uma tatuagem”. Um choque psíquico. Quase não acreditei. É hipocrisia, sim. Não que uma tatuagem tenha algo de sujo, de errado. Mas o puritanismo do cara, sustentado há anos, cai por terra. É ou não é? Ou é somente uma jogada de marketing para vender uns disquinhos a mais com a foto da tatuagem na capa neste final de ano? Sei não. “Ele me contou que malha todos os dias e que vai fazer uma tatuagem!”, confirmou Galisteu.
Então é por essa e outras que continuo aplaudindo a piada do falecido humorista Espanta, quando ele diz para a esposa que o seu amor por ela é maior do que o amor de Roberto Carlos pela também falecida Maria Rita. “Então prove!”, desafia a esposa. “Então, morra!”, sugere Espanta. Esse é o nosso rei, não sei de quê.

Gilson Sousa

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Árvore da discórdia


Remoer a dor dos outros nunca foi bom negócio para ninguém. Na história, somente os mesquinhos e masoquistas teimam em colocar em prática tal situação vexatória. A dor, seja ela nossa ou dos outros, precisa ser respeitada ao extremo. Até acalentada. Mas jamais reverenciada ou até mesmo utilizada como pano de fundo para disfarçar um sentimento repugnante. E sendo assim, a Energisa – empresa privada que fornece energia elétrica aos sergipanos – jamais deveria pensar em montar novamente a famigerada árvore de Natal que em novembro do ano passado caiu e matou quatro trabalhadores.
Sim, essa árvore com ares de assassina deixou de ser é um símbolo de alegria, de paz, de fraternidade, de natalidade, do nascimento de um novo homem que viria para salvar o mundo dos pecados, conforme a Bíblia. Essa árvore passou a ser símbolo de um martírio. Uma espécie de casa de mortos, já que por ali, naquele pequeno banco de areia entre os rios Poxim e Sergipe, vagam as almas dos operários Anselmo de Almeida, Fábio dos Santos Melo, Cleidivan Alves e Fred dos Santos. Se for montada, estará mais para um monumento aos mortos, que um monumento ao espírito natalino do povo sergipano. Tenham certeza disso.
Senão, digam-me, senhores e senhoras, quem deixará de lado a lembrança daquela tragédia ao ver novamente a imponente árvore brilhando nos arreadores da Coroa do Meio? Quem, entre nós, não ficará indignado quando souber que sequer as indenizações às famílias dos mortos foi resolvida judicialmente? Quem baterá palmas diante dos cento e tantos metros de altura que enterram vítimas de uma ganância por uma citação no Livro dos Recordes? Quem será capaz de acalentar tanta insensibilidade? Quem?
Aliás, li num blog local que a notícia da montagem da árvore da Energisa novamente não agradou em nada a dona de casa Luciana Teles de Oliveira, viúva do eletricista Anselmo de Oliveira, vítima da tragédia. “Eles deveriam esperar passar esse ano para pensar em montar de novo a árvore. Tudo está muito recente, ainda dói muito, e ver a árvore lá, vai doer mais ainda”, disse a senhora, coberta de razão em tudo.
Ademais, como bem expressou o poeta Amaral Cavalcanti, aquela coisa lá longe, em meio às bostas das quatro bocas, não empolga. “Se estivesse cá, com nós bem perto, seria maravilhoso curtir o seu tamanho. Então, o local está errado”, defende. De fato, montada naquele ponto, distante de todo mundo, a árvore não nos dá a exata dimensão de sua grandeza. Bom seria, já que querem montar mesmo, que fosse em local aonde pudéssemos passar por baixo, olhar para o alto e admirar a imensidão das luzes. Mas isso sem que nos ofereça o risco de cair. Até porque já basta, né.
Assim como basta essa história de que o passado é simplesmente passado. Não. Quando se trata de vidas perdidas, o passado precisará sempre ser respeitado. A Energisa, que parece não ligar para dor alguma, até poderia buscar outro local para montar sua árvore natalina. Dentro do Parque da Sementeira, sei lá. No alto do Morro do Urubu, na Atalaia. Só não vai ficar legal ali no mesmo local aonde quatro vidas foram cruelmente ceifadas. É assim que penso.
E não como diretores da empresa, que mesmo diante de adversidades alegam não poder deixar de lado uma tradição de 21 anos. “Temos que mostrar que somos grandes, no sentido de que não podemos esmorecer diante das dificuldades. Nossa vida é feita de obstáculos”, afirmou um diretor, em entrevista coletiva à imprensa. “Algumas pessoas vão criticar a montagem da árvore, mas sabemos que será a minoria. Fizemos uma pesquisa e constatamos que a grande maioria está a favor da montagem. E é com o aval do aracajuano que vamos manter essa tradição acesa”, disse o moço, sem noção do mal que está fazendo, ao menos, às famílias enlutadas.

Gilson Sousa

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O especialista em belas imagens


É fácil constatar. Os pontos turísticos de Sergipe ficam mais bonitos através das lentes do fotógrafo César de Oliveira, um experiente repórter fotográfico que vira e mexe direciona seu talento ao registro de paisagens e outras coisas mais. César é especialista em desbravar ângulos e performances. É um estudioso da arte e por isso consegue sempre bons resultados no seu trabalho.
Dia desses, ao chegar à Assembleia Legislativa para trabalhar, deparei-me com um diferente e imenso painel instalado na área de recepção e não pensei duas vezes em relação ao autor. Era coisa do César. Uma belíssima imagem, em 180°, da praça Fausto Cardoso, centro da cidade.
Na foto, de formatação inédita, a visão vai desde o prédio da própria Assembleia, na esquina da avenida Ivo do Prado, até o Palácio do Governo, eternamente em reforma, ali no início do calçadão da João Pessoa. No centro da foto, a emblemática estátua de Fausto Cardoso. Uma beleza de fotografia, certamente.
Mas o negócio não para por aí. Também no prédio da Assembleia, mais especificamente nos corredores em cada um dos andares, existem imagens feitas por César retratando vários aspectos do Estado. São manifestações folclóricas no interior, festas populares, cânion de Xingó, em Canindé do São Francisco, e outras mais. É uma espécie de exposição permanente para exaltar o trabalho de um profissional sergipano de grande valor.
E como se tudo isso não bastasse, César é um camarada de primeira linha. Em relação à vida política, tem um olho clínico que é privilégio de poucos por aqui. As mais tradicionais figuras do universo político local já foram fotografadas por ele em situações pouco convencionais. Mas esse acervo é guardado a sete chaves.
No mais, digo que numa outra oportunidade falaremos um pouco mais do trabalho de César de Oliveira, mostrando exemplos admiráveis da sua arte de fotografar. Mas se você quiser mais informações, acesse o site dele (www.photosdesergipe.com), que por enquanto está em processo de construção, mas em breve virá cheio de novidades.

Gilson Sousa

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Herdei um tesouro literário


Tem pirata que corre o mundo atrás de tesouros. Tem gente que se vira atrás de preciosidades. Tem indivíduo que faz de tudo para conseguir uma jóia verdadeira. Mas tem gente que dá sorte. E eu estou nessa. Acabei de ganhar um tesouro sem definição. Não um tesouro daqueles abarrotados de ouro e prata. Mas um tesouro em forma de livros que fazem parte de cinco coleções: Os imortais da literatura universal; Clássicos Modernos; Mestres da literatura brasileira e portuguesa; Grandes Romancistas; Teatro Vivo.
O presente veio do amigo Cleomar Brandi. São cerca de 80 livros, incluindo pequenas biografias dos autores, que ele leu durante anos quando esteve impossibilitado de caminhar. Passou um bom tempo da juventude na cama, após perder os movimentos das pernas, e dedicou-se à leitura constante. Agora, passados mais de 40 anos, os livros são meus. Farão parte da minha estante. Mas o desafio, já sei disso, vai ser mergulhar de cabeça nesse universo literário e aproveitar ao máximo as honras do tesouro.
Entre os clássicos estão: Moby Dick, de Herman Melville; As Vinhas da Ira, de John Steinbeck; O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; Moll Flanders, de Daniel Defoe; As Aventuras do Sr. Pickwick, de Charles Dickens; O Cristo Recrucificado, de Nikos Kazantzakis; Lorde Jim, de Joseph Conrad; Decamerão, de Giovanni Boccaccio; O Primo Basílio, de Eça de Queiroz; Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo; Os Irmãos Karamazovi, de Fiódor Dostoievski; Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac; enfim, uma coleção de fôlego.
A propósito, qualquer ser humano que tenha lido tudo isso pode se considerar um mestre em literatura sem que seja preciso ir aos bancos da universidade. Tenham certeza. Os mais de 50 livros representam um apanhado significativo da literatura mundial produzida em séculos passados. Então por isso a inteligência literária do Cleomar, jornalista de ponta, é tão privilegiada. Por isso aquela capacidade de compreensão do mundo. Por isso tanta sabedoria na cabeça de um homem que se mostra profundo conhecedor das letras.
E voltando aos livros, nas coleções ainda tem Lolita, de Vladimir Nabokov; Às sombras das raparigas em flor, de Proust; A Leste do Éden, de Steinbeck; As ilhas da corrente, de Hemingway; Estrela da vida inteira, de Manuel Bandeira; A grande arte, de Rubem Fonseca; A casa da paixão, de Nélida Piñon; Capitães de areia, de Jorge Amado; As terras ásperas, de Rachel de Queiroz. Quer mais?. Tem Hamlet, de William Shakespeare; Édipo Rei, de Sófocles; e mais um bom bocado de jóias literárias. É ou não é um tesouro?

Gilson Sousa

sábado, 17 de outubro de 2009

Violência institucionalizada no Rio


Sempre disse que a cidade do Rio de Janeiro não merece boa parte do povo que tem. É um contraste danado. O lugar mais bonito do mundo abrigando uma gente violenta, pouco afeita às cordialidades. Morei lá durante cinco anos, sei da dimensão de sua importância no cenário cultural e acadêmico do país, mas jamais gostaria de fixar residência num local assim.
Digo isso a propósito do noticiário de hoje, mais uma vez, enfocando a guerra entre traficantes e policiais. Dessa vez derrubaram até um helicóptero da PM, matando duas pessoas e feriando outras quatro. Êta bandidagem ousada. Eles mandam mesmo naqueles morros e quem quiser que ande na linha. Senão o bicho pega pra valer.
A propósito, já bebi cerveja no Morro do Macaco, com meu amigo Gilberto, e nunca havia sido importunado por quem quer que seja. O morro, onde aconteceu o confronto de hoje, fica por ali, próximo ao bairro de Vila Isabel e ao Grajaú, onde Gilberto morava. Sempre pisei lá pianinho. Via muita gente exibindo armamento pesado, mas jamais procurava qualquer faísca. Dei sorte.
Enfim, o que quero dizer é que o Rio, decididamente, não merece aquele povo da banda podre. E não são só os bandidos não. Tem policial, tem doutor, tem o escambal. É uma pena. Até porque as pessoas de bem, que são muitas, ficam obrigadas a viver em estado de pânico. Tá pensando que é brincadeira! Hoje foram só dois policiais militares que morreram na queda do helicóptero, além de dez bandidos logo depois. Mas se for calcular o número de tragédias diárias, o Jornal Nacional viraria boletim do IML carioca.

Gilson Sousa

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Seleção sub-20: o preço da incompetência


Ainda bem que aprendi a ser frio. Na tarde desta sexta-feira resolvi ficar em casa, com minhas latinhas de cerveja na geladeira, para ver pela televisão o jogo entre Brasil e Gana, valendo o campeonato mundial de futebol de seleções sub-20. Ou seja, jogadores com menos de 20 anos de idade. Pois bem. Juro que esperava uma vitória, como quase todo mundo, dos canarinhos.
Fiquei empolgado com o início da partida. Só dava Brasil. Gana, apesar de ter um time muito bom, estava recuada, esperando o Brasil impor sua superioridade em campo. Daí, tudo bem. O domínio total era mesmo do Brasil, desde o primeiro minuto. Ainda mais quando aos 37 do primeiro tempo, ainda, o time africano teve um zagueiro expulso. Pronto. Aí tudo iria ficar mais fácil para os amarelinhos.
Que nada. O que eu vi, sinceramente, foi um bando de jogador covarde. São bons de bola, sim senhor. Mas covardes. Nem parecia que estavam disputando uma final de mundial. Todos dispersos e sem criatividade. Um tal de Alex Teixeira, muito badalado pela mídia, era o mais mascarado. Outro tal de Alan Kardek era impreciso demais. Um chamado Douglas Costa, também badalado, chegou a pisar na bola várias vezes.
O craque do time, um sujeito de nome Giuliano, estava sem precisão alguma em campo. Um ou outro até que corria, como o lateral Diogo, mas sem objetividade. “Tecnicamente, se esperava mais desta equipe”, resumiu um comentarista do canal SporTV. E eu ali, quase impaciente, sem entender o que estava acontecendo com os brasileiros. Até porque Gana estava praticamente entregue, até admirando o futebol brasileiro.
O jogo foi para a prorrogação de 30 minutos. Estava ainda 0 a 0. E sinceramente pensei que ali liquidaríamos a fatura. Que nada. O Brasil foi covarde, essa é a verdade. Pagou o preço da incompetência. Demonstrou falta de vontade, excesso de prudência, sei lá. E não é assim que o brasileiro tem que ser. No fim, disputa do título nos pênaltis, deu Gana. Aí o Brasil perdeu mais uma. Mas quem liga para isso?

Gilson Sousa

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A vingança da princesa


Por aí, já tinha visto atleta se transformar em técnico, cobrador de ônibus se transformar em motorista, policial virar bandido, advogado virar vendedor de cachorro-quente e outras coisas mais. Mas o inusitado sempre acontece. Dessa vez, conheci uma modelo fotográfica que se transformou em fotógrafa. História porreta. É da Juliana Ivo Costa, uma morena de endoidecer, como diz o seu conterrâneo, Djavan.
Juliana, estudante de jornalismo alagoana, é uma daquelas pessoas super de bem com a vida. Linda do dedão do pé ao último fio de cabelo, contou-me que já posou demais nessa vida. Durante anos, na fase adolescente, freqüentou dezenas de estúdios fotográficos, fez centenas de ensaios, passou horas e horas nas mãos de cabeleireiros, maquiadores e estilistas. Mas ela cansou.
A bela moça, que chega a ser irreverente, deu um basta nessa história de modelo e armou uma espécie de contra-ataque. Sim, Juliana comprou uma poderosa máquina fotográfica, pegou umas aulinhas e saiu mundo afora clicando os outros. Não como profissional, mas como amadora no sentido mais profundo da palavra. Ela ama registrar o povo. Faz imagens inusitadas, registra momentos improváveis, brinca com as expressões dos anônimos. Ela é uma figura.
É difícil ver Juliana por aí sem a máquina agregada ao corpo dela. Suas lentes são atentas, seu estilo é discreto. Aliás, não é muito difícil para ela convencer as pessoas a posarem para suas fotos também. Até porque Juliana encanta. É como se fosse uma princesa se vingando de um passado sufocante. E assim ela prossegue, clicando quem vê pela frente. Fui alvo de sua lente, mas bom seria também ficar na linha de mira daquele coraçãozinho alagoano com jeito de arretado.

Gilson Sousa

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Urubu na carniça: que delícia



É como urubu na carniça mesmo. Talvez por isso o jornalismo seja tão excitante para muitos. Assim como é para mim. Digo isso porque mais uma vez testemunhei da minha varanda a movimentação de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos de jornais bem na portaria do condomínio em que moro. Todos no faro da Polícia Federal, que estava no local com viaturas e agentes, cumprindo um mandado de busca e apreensão num dos apartamentos.
Pelo o que soube, trata-se de um problema com uma empresa que opera com internet a cabo no condomínio, supostamente de maneira clandestina. A denúncia à Anatel, que é um órgão federal, partiu do próprio síndico, Ailton Coelho de Carvalho. E curiosamente, a empresa de internet em questão pertence ao tenente coronel PM Eliezer Santana, aquele que recentemente estava preso, após polêmico envolvimento no episódio do Presídio Militar.
Pois bem. Em poucas horas, na parte da manhã, o enxame de jornalistas foi intenso. TV Sergipe, TV Atalaia, TV Aperipê, Jornal da Cidade, Correio de Sergipe, Infonet, enfim, uma infinidade de representantes de veículos de comunicação em busca de informações na portaria. E eu só observando. Mas num determinado momento desci e colhi informações mais precisas sobre o caso. Aí, confesso, telefonei para amigos produtores e pauteiros, fiz imagens e até repassei pequenos textos para sites de amigos. Não tem jeito. Tá na veia. É a cachaça do jornalismo se manifestando e a gente se embriaga de prazer.
A movimentação de todos, a busca de uma informação exclusiva por cada um dos profissionais, o melhor ângulo para os fotógrafos, o trabalho paciente dos agentes federais, enfim, tudo isso é excitante mesmo. O fato lamentável é que ainda não praticamos um jornalismo mais completo. Ou seja, mais intenso, mais investigativo, mais atraente. Digo isso porque vi que todos os colegas que chegaram no local, colheram suas informações, fizeram suas imagens e caíram fora.
Não esperaram sequer resultados mais concretos da operação, já que a polícia federal permaneceu na área por muito mais tempo. Sei que televisão, principalmente, trabalha contra o tempo. Mas falta vontade em alguns repórteres, perspicácia em outros, ousadia na maioria e espírito investigativo em todos. Ninguém esperou por um possível flagrante, um furo, sei lá. Só sei que vi, da minha varanda, as viaturas indo embora, no começo da tarde, repletas de malotes e outros objetos nas mãos dos policiais. Será que a carniça era saborosa?

Gilson Sousa

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Assessor de imprensa é jornalista?



Acabo de voltar do 17º Encontro Nacional de Jornalistas em Assessoria de Comunicação (Enjac), realizado em Goiânia até ontem, domingo. Cerca de 400 pessoas, entre jornalistas profissionais, professores da área de comunicação e estudantes participaram do evento que teve o apoio da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). Muitas palestras bacanas, incluindo as dos professores Manuel Chaparro (USP) e Josenildo Guerra (UFS). Os dois debateram com a platéia sobre ‘o conhecimento do Jornalismo na Assessoria de Imprensa’.
Pois bem. A partir destas palestras, algumas pessoas levantaram o questionamento sobre a identidade real do assessor de imprensa no contexto de um órgão público ou privado. Ou seja, começaram a questionar se um assessor de imprensa é mesmo um jornalista. Uma coisa meio absurda, mas que tomou conta do encontro durante muitos instantes. Ainda mais quando o veterano jornalista Armando Rollemberg, sergipano que hoje dirige a TV Senado, em Brasília, colocou mais pimenta no tempero.
Também como palestrante, Armando ficou em cima do muro nessa questão. Citou vários exemplos de países que não consideram o assessor de imprensa como jornalista e nas entrelinhas apoiou uma declaração absurda do colega Ricardo Noblat, de O Globo. Segundo Armando, Noblat defende a tese de que assessor não é jornalista porque não trabalha na linha do denuncismo. Apenas divulga o interesse do patrão. Mas vem cá: desde quando jornalismo é só denúncia? Quanta ignorância desse Noblat.
Enfim, para mim, que sou jornalista sim e no momento assumo a função de assessor de imprensa, essa discussão deveria estar superada há tempos. O fato de isso acontecer em outros países não significa que no Brasil tenha que ser assim. Nossa cultura comunicacional é outra e precisa respeitar suas particularidades. Até porque a imprensa por aqui não sobreviveria sem a produção das assessorias de comunicação. Tenham certeza disto.
A propósito, uma colocação do professor Chaparro me chamou a atenção. Para ele, mais que uma assessoria de imprensa, o que existe hoje é uma ‘assessoria de fonte’. Sábias palavras. E tanto ele quanto Josenildo Guerra defendem que há jornalismo nas assessorias de imprensa sim. Os dois enxergam avanços no processo de comunicação a partir da estruturação das assessorias. E eu digo: num momento em que a luta da categoria precisa ser focada no restabelecimento da exigência do diploma para o exercício da profissão, debates como esses não contribuem em nada.

Foto 1 - Palestra de Chaparro e Guerra
Foto 2 - Jornalistas questionando Armando Rollemberg

Gilson Sousa

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Por que não reduzem o intervalo entre uma olimpíada e outra?


Considero uma tremenda besteira essa de o Comitê Olímpico Internacional (COI) incentivar uma disputa absurda entre países respeitáveis para sediar uma competição esportiva tão abrangente para daqui a sete anos. É lógico que quase todo mundo quer ter o privilégio de organizar uma olimpíada em casa. Por isso tantas candidaturas com potencial considerável. Daí então, a pergunta: por que não reduzir o intervalo de tempo entre uma olimpíada e outra, passando dos atuais quatro anos para dois?
Para mim, na verdade, o que o COI ainda não entendeu, assim como a FIFA, que organiza a Copa do Mundo de futebol, é que nos últimos 50 anos, ao menos, o mundo cresceu, ficou mais veloz, mais voraz, mais intenso, mais curto, mais astuto, mais sedento por grandes eventos. As distâncias diminuíram. Além disso, em quatro anos, muitas vezes se acaba o ciclo vital de um atleta.
Então, insisto, por que não encurtar o tempo entre uma olimpíada e outra. Acredito que seria viável. E ainda acabaria contemplando muito mais cidades, já que muitas se dispõem a gastar os milhões exigidos para organizar o evento. A propósito, calcula-se que a China em 2008 tenha investido mais de US$ 60 bilhões e Londres, que será a sede em 2012, contabiliza até agora um gasto de R$ 120 bilhões.
Nessa reta final de escolha da sede para a olimpíada de 2016 continuam na briga o Rio de Janeiro (Brasil), Tóquio (Japão), Madri (Espanha) e Chicago (Estados Unidos). A decisão / escolha será nesta sexta-feira, dia 2 de outubro, na Dinamarca. E lá, a essa altura, todos os chefes de Estado representantes dos países concorrentes, além de celebridades influentes, já estão fazendo festa e pedindo voto. Até Lula, nosso presidente, foi lá peitar Barack Obama, o todo-poderoso dos Estados Unidos.
No caso do Rio, que tem boas chances de ganhar a disputa, falam que o investimento será de R$ 100 milhões. Algo considerável. Ainda mais quando se leva em conta que nós aqui precisamos mesmo é de investimentos urgentes em educação, saúde, transportes e segurança. Para ficar só nessas áreas. Mas mesmo assim adianto que não sou contra a vinda da olimpíada, e sim contra a periodicidade do rodízio, que considero muito grande.
E já que falamos em investimentos brasileiros, não custa lembrar que esporte no Brasil nunca foi tratado com seriedade. Nunca foi prioridade em governo algum. Os exemplos são muitos. Mesmo atletas olímpicos de ponta, como Diego Hipólito, da Ginástica, precisam mendigar junto a órgãos públicos e privados para se manter no esporte. Apenas alguns poucos privilegiados no futebol e vôlei conseguem respirar aliviados quando o assunto envolve o bolso. Nos demais casos, é puro sacrifício mesmo. Então será que a vinda de uma olimpíada mudaria algo nesse sentido? Com a palavra, os políticos brasileiros.

Gilson Sousa

Cleomar, irmão de fé, camarada


Chico Ribeiro Neto é jornalista (chicoribe@gmail.com)

Minha amiga Leda Fróes, médica anestesista, depois que conheceu o jornalista Cleomar Ribeiro Brandi, meu irmão, em Aracaju, com as duas pernas amputadas, colostomizado, trabalhando no Jornal da Cidade e na TV Aperipê e com uma imensa vontade de viver, me disse:
"Agora, quando tenho qualquer problema na vida, penso logo em Cleomar. Se ele pode enfrentar todos os problemas dele, o meu agora não é nada".
Cleomar, que virou parâmetro de vida não só para Leda, como para muita gente, lançou no último dia 24 seu primeiro livro, “Os Segredos da Loba”, com 71 crônicas, capa e ilustrações do artista plástico Leonardo Alencar, conhecido internacionalmente. A edição foi promovida pelo Governo de Sergipe e Fundação Aperipê.
Para o poeta e professor Gilfrancisco, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, “Cleomar é um professsor de vida que todo aluno gostaria de ter”, e completa: “Cléo é um poeta sensível, de alma romântica, reflexivo, amigo dos seus amigos, um cultor apaixonado da lealdade, um coração aberto para fazer o bem a todos que transitam no âmbito de sua atuação”.
Há 25 anos em Aracaju, Cleomar conseguiu vender mais de 250 livros na noite de lançamento que contou com a presença de muitas autoridades, inclusive o governador Marcelo Déda, jornalistas, professores e, é claro, boêmios.
O jornalista Marcos Cardoso, que apresenta o livro, diz que Cleomar “é um bem público, um patrimônio que deve ser preservado e cultuado. Um monumento vivo e andante. Ele transmite, acima de tudo, vontade de viver. É ativo, quer estar nos lugares com as pessoas. É atuante e muito mais ativo do que a maioria das pessoas que conheço”.
O jornalista Gilson Sousa, que também escreve na apresentação do livro, afirma que Cleomar “é um autor que bebe em várias fontes, mas é principalmente na vontade de viver intensamente os instantes que Cleomar Brandi encontra forças e sabedoria para produzir tanto”.
Dono de um fantástico senso de humor, quando amputou a segunda perna, já em Aracaju, promoveu a Festa da Meia, onde distribuiu todas que tinha.
Ele foi o melhor lateral esquerdo nos “babas” e me defendia dos meninos mais velhos com os quais eu procurava briga. Não gostava de estudar e foi campeão de natação pelo Vitória.
Em Salvador, dois meninos ainda pescam quatinga numa pedra da Praia da Preguiça onde só se chega nadando. Eles se chamam Chico e Cleomar.


A foto é de Jorge Henrique

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Número de famintos no mundo passa de 1 bilhão. Isso é justo?


Longe de mim ser dramático nesta hora, mas enquanto você fica escolhendo pratos de comida no dia a dia, enquanto fica admirando novelas da rede Globo, enquanto fica esbanjando riqueza material, exaltando a moda no vestuário, mergulhando a vida em coisas fúteis, justamente nesta semana o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU informou que, pela primeira vez, o número de pessoas com fome no mundo passou de um bilhão. Ou seja, existem hoje 1,020 bilhão de famintos no planeta. E você com isso, né? Pois é. Saiba que são cerca de 510 estados de Sergipe cheinhos de gente passando fome. Gente sem ter o que comer no cotidiano, para ser mais claro.
"Este ano, temos mais famintos que nunca", afirmou Josette Sheeran, diretora do PMA em Londres. Na entrevista que concedeu, ela fez questão de lembrar que “muitas pessoas acordam e não têm nada para comer”. E não precisamos ir muito longe para constatar essa realidade. Por aqui, da Vila do Queijo, na Atalaia, aos becos de Poço Redondo, no sertão, encontramos gente passando fome. É muita gente mesmo sobrevivendo abaixo da linha da miséria, apesar de todos os programas sociais implementados pelos governos nos últimos anos.
A propósito, outro dado da PMA chamou a atenção do mundo. Segundo Sheeran, atualmente o fluxo da ajuda humanitária é o menor da história. Ou seja, tem menos gente ajudando do que no habitual. Isso porque as pessoas, acredito, estão muito mais preocupadas com o seu umbigo, já que essa história de crise econômica mundial é balela. Pelo menos para mim. Já a senhora Sheeran prefere atribuir o fato a "duas tempestades que coincidiram e estão superando": os efeitos da crise financeira internacional e do encarecimento dos alimentos.
Aliás, a diretora do PMA anunciou ainda que o Programa enfrenta "um grave déficit fiscal". Sheeran disse que este ano só receberam US$ 2,6 bilhões dos US$ 6,7 bilhões necessários para distribuir alimentos a 108 milhões de pessoas em 74 países. Ela assegurou ainda que, com "menos de 1% das injeções feitas pelos governos para salvar o sistema financeiro internacional, seria possível acabar com a fome de milhões de pessoas". Muito lógico, isso.
Mas enquanto o povo morre de fome mundo afora, por aqui, na nossa mídia espetacular, os apresentadores ‘engraçadinhos’ do Jornal Hoje (Globo) exibem radiantes matéria sobre as dez maiores celebridades mais bem vestidas no mundo. Sendo assim, durma com um barulho desses!

Gilson Sousa

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ir às compras


Chico Ribeiro Neto é jornalista (chicoribe@gmail.com)

Não gosto e não sei ir às compras. Se for pra comprar uma camisa, fico logo com a segunda que gostei. Costumo dizer a minha filha que minha CS (cota de shopping) é de uma hora. Mais do que isso, dá vontade de ficar maluco, principalmente se for num dia de sábado.
Não gosto também de conversa de vendedor, principalmente daqueles que dizem “esse sapato é a cara do senhor”, ou dos outros que assim que lhe vendem uma calça perguntam logo se não vai querer um cinto, meia ou cueca, “aqui tem umas ótimas”.
Uma vez resolvi comprar filé mignon. Tinha recebido a quinzena no jornal e entrei todo rico no açougue, que estava cheio num sábado. O dono veio me atender e perguntei logo:
- Tem filé mignon?
- Tem, sim.
- Então me dê um quilo.
- Mas a gente só vende a peça inteira.
Morei em Porto Alegre quase um ano. No começo, foi difícil aprender os nomes dos pães. A nossa vara de pão, por exemplo, lá é chamada de bisnaga. Um dia, no supermercado, cheguei perto da padaria e, de repente, esqueci o nome gaúcho da vara de pão. Fiquei por ali, rodando, perto do balcão até que chegou um cara e gritou:
- Me dá uma bisnaga.
- E uma pra mim também – completei mais do que depressa.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A melancólica volta da censura em jornal


Com tristeza, vi ressurgir no âmbito da imprensa local a famigerada censura à informação. Não aquela nefasta dos tempos de ditadura militar, mas uma bem caseira, talvez mais cruel ainda. Explico: há duas semanas, fui comunicado por amigos policiais militares que o comando geral havia acabado de nomear para o posto de sub-ouvidor geral da PM/SE um cidadão chamado Geraldo José Leão de Oliveira, coronel. Até aí nada demais.
No posto, o citado oficial será encarregado, de certa forma, pela moralização da instituição e principalmente pelo feedback com a sociedade sergipana. Tarefa muito nobre, por sinal. Acontece que segundo meus amigos militares, o moço está envolvido até o pescoço com processos judiciais, indo da acusação pela utilização de viatura policial para interesses particulares até um envolvendo com estupro. Acreditem. Esse será o homem que irá ‘moralizar’ a instituição, aconselhar soldados e oficias, recomendar boas práticas e até orientar o comando.
Como homem da comunicação, passei a sugestão de pauta para o ex-aguerrido semanário Cinform. Nada de fazer a matéria. Dias depois passei para o Jornal da Cidade. Também nada. E com um agravante, já que não alegaram publicar a informação porque pessoas ligadas ao oficial trabalham no diário. Um absurdo. Até porque a nota sairia numa das colunas devidamente assinada, de inteira responsabilidade do jornalista. E mesmo assim foi censurada.
O que acho é que é profundamente lamentável o episódio. Em todos os sentidos. Fatos que interessam diretamente à sociedade sendo varridos para debaixo do tapete por motivos fúteis. Imaginem então quantas informações mais foram barradas nesse contexto.
No entanto, tenho certeza de que a sociedade merece ter essa informação sobre o coronel sub-ouvidor. Os próprios oficiais que integram as associações dos militares já fizeram questão de se manifestar contrários ao fato. “Não tenho nada pessoal contra o coronel Leão, mas se for para moralizar a tropa, ele não é o exemplo a ser seguido”, confessou o sargento Vieira. O alento é que na cola do coronel também estão o promotor de justiça Jarbas Adelino e o juiz Diógenes Barreto. Ótimas companhias.

Gilson Sousa

domingo, 13 de setembro de 2009

Dormir juntinho faz mal à saúde. É fato


A imprensa brasileira repercutiu essa semana o resultado de uma pesquisa britânica pra lá de curiosa. O especialista Neil Stanley, da Universidade de Surey (Inglaterra), concluiu que casais que dividem a mesma cama sofrem, em média, 50% mais perturbações do que os “solteiros”. E por que isso? Porque a disputa por cobertor, o ronco e parceiros que se mexem demais acabam atrapalhando consideravelmente o sono um do outro. Resultado, segundo Neil, é que uma noite mal dormida leva à depressão, estresse, doenças cardíacas, derrames, distúrbios respiratórios e até a acidentes de trânsito e no trabalho. Quer mais o quê?
O pesquisador disse ainda que a idéia de dormir juntinho é romântica, mas é basicamente uma questão cultural. Isso porque o costume de dormir na mesma cama surgiu com a revolução industrial e a urbanização da população. Muito mais pela necessidade de aproveitar o espaço, pequeno e caro, do que por romantismo. Aliás, Neil Stanley assegura que quem não dorme bem ao lado do parceiro (a) deveria pensar seriamente em adotar o costume da Roma antiga, quando o casal tinha uma cama, mas ela servia para o sexo, não para o sono.
Para mim, essa história toda tem lógica. É claro que de vez em quando dormir agarradinho, de conchinha, é uma maravilha. Mas que isso atrapalha o sono, atrapalha. Portanto, sou defensor da tese do pesquisador Neil Stanley: a cama em comum deverá servir para os insubstituíveis atos sexuais. De vez em quando servirá como espaço reservado e confortável para um bate-papo mais afeito, um cafuné em hora imprópria, uma afago mais quente. Mas na hora do sono, cada um pra sua cama.
Aliás, para os médicos ouvidos na pesquisa britânica, só há um jeito para não perder horas preciosas de sono: comprar uma cama bem grande e com cobertores separados. Pode ser, mas haja espaço no quarto. Até porque, segundo a própria ciência, a história de ficar abraçadinho a noite toda parece funcionar bem melhor nos romances de cinema do que na vida real.

Gilson Sousa

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pobres argentinos, pobres brasileiros...


Com a euforia da mídia nacional pela conquista antecipada da vaga na Copa do Mundo 2010, após o jogo de sábado contra a Argentina, eu até concordo. Mas comemorar exacerbadamente uma vitória diante dos hermanos, só porque o jogo foi na casa do adversário, isso eu discordo. É colocar em prática a baixa auto-estima do povo brasileiro. Tenham certeza, já que eles lá não estão nem aí para a gente. Quer ver?
Pesquisa recentemente realizada naquele país revela que os argentinos nunca consideraram os brasileiros como seus maiores rivais. No máximo, alimentam uma certa rivalidade no futebol. E pronto. Para eles, que se sentem os verdadeiros europeus da América do Sul, o rival histórico era o Uruguai. Isso até acontecer a famigerada Guerra das Malvinas, em 1982, disputada contra a Inglaterra. Como perderam a guerra, a Inglaterra passou a ser o país rival do povo argentino. Nada de Brasil nessa história. Portanto, não precisamos odiá-los tanto, nem muito menos se sentir no céu porque ganhamos um jogo para eles. Afinal, quem é o penta campeão mundial?
A propósito, o Uruguai sim poderia ser o nosso grande rival. Aquele país derrotou o time brasileiro numa final de copa em pleno Maracanã, em 1950. Já bateu o Brasil inúmeras vezes em edições da Copa América e por aí afora. É certo que hoje em dia o time não anda muito bem das pernas, mas esse seria o nosso deleite. Ter um rival enfraquecido e longe de nos alcançar.
E vou mais longe. Tá na hora, definitivamente, de a mídia nacional enterrar essa história de querer comparar Maradona com Pelé, o jogador incontestável. Jamais vou tirar o mérito do craque argentino, que jogou muito, mas que poderia ser comparado a Zico, por exemplo. A diferença é que o Galinho de Quintino não conseguiu, infelizmente, levantar uma taça de Copa do Mundo. Mas comandou a melhor seleção que o mundo já viu numa copa, a de 1982. Jogou muita bola e dá exemplo fora de campo. Já o contrário...

Gilson Sousa

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O bom trabalho de Cristian e o salário de ministro do STF


Fazer jornalismo em Sergipe é um ato heróico. Não que a profissão por aqui seja de extrema dificuldade no decorrer do exercício, mas é que o amadorismo é tão gritante, que enche de tristeza muita gente bem intencionada. Por isso é sempre bom destacar quem de fato consegue, ou ao menos tenta, fazer a coisa certa.
Digo isso para citar o trabalho combativo e corajoso do colega Cristian Góes, no seu blog http://cristiangoes.blogspot.com. É claro que é quase sempre polêmico, apimentado. Pisa no calo de muita gente, principalmente dos gestores públicos, mas tem compromisso com o fato verdadeiro. A única coisa que lamento é que acaba servindo de munição para políticos oportunistas que sempre trabalharam contra o povo e agora se colocam na posição de cobradores daquilo que nunca fizeram. Mas é o preço do jornalismo sério.
A propósito, pode não ter nada a ver, mas fiquei estarrecido com nota na coluna de Cristian desta semana: o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal vai ter reajuste e passará dos atuais R$ 24.500,00 para R$ 27.716,00 a partir de 1º de janeiro de 2010. É mole? E continua a nota: este aumento que vai atingir apenas 38 ministros ativos e inativos do Supremo e o procurador-geral da República provocará um efeito cascata nos demais salários, especialmente do Judiciário, que estão atrelados ao vencimento dos ministros do STF.
E mais: o resultado desse aumentozinho para os ministros vai elevar os gastos públicos em pelo menos R$ 157 milhões por ano. Na mesma linha dos ministros do STF, os delegados da Polícia Civil nos Estados e os promotores de Justiça também querem reajustes. Então, ta bom... E vocês sabem qual o valor do salário mínimo no próximo ano: “De acordo com os dados, o crescimento do PIB foi estimado em 4,5% e o salário mínimo foi fixado em R$ 505,90, o que representa um aumento nominal de 8,8% em relação ao salário de agora, que é de R$ 465,00”, informou a coluna de Cristian.
Então cadê a nossa imprensa, nacional e local, para manifestar-se contra tais absurdos?

Gilson Sousa

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vanessa é da mata e do coração


Ela pode até não ser a melhor cantora do Brasil em atividade, mas certamente é a mais festejada, mais atraente, mais simpática, mais formosa, mais evidente, mais presente, mais gostosa. É a que tem o melhor repertório do momento para um show ao vivo. É simplesmente uma gata, uma doçura de mulher, uma artista como poucas. É Vanessa da Mata.
Vibrei com o show dela hoje à noite aqui em Aracaju, da turnê Perfumes de Sim. Uma delícia de cantora, com músicas que estão na boca do público e inevitavelmente agradam pensamentos diversos. Aliás, o público foi coadjuvante no espetáculo. Músicas como ‘Ainda bem’, ‘Amado’ e ‘Boa sorte’ tiveram a participação total da platéia do Emes.
É claro que Vanessa está acostumada a isso, mas acredito que a cada apresentação ela sinta uma emoção distinta e satisfatória. Posso dizer que é uma cantora e compositora que cumpre bem o seu papel na atual fase da MPB. Qualquer dia desses, chega no patamar de uma Marisa Monte, uma Bethânia, uma Zizi Possi. Por enquanto, ela é a nossa paixão de momento. E olha que está cuidando muito bem desse apego.

Gilson Sousa

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Exercício da sergipanidade


Gilson Sousa (gilson.sousa@ig.com.br)

O 8 de julho que passou, sinceramente, ampliou uma atividade político-social que vem sendo empreendida em terras sergipanas desde que Marcelo Déda enveredou por cargos administrativos. Trata-se do resgate da auto-estima de um povo. Sem falsas modéstias. Nenhum governante de antes havia demonstrado preocupação alguma com este fato. Déda, sim. E aqui não vai nenhum elogio gratuito à sua atuação, pois não fez mais do que sua obrigação de sergipano.
Essa elevação de auto-estima se caracteriza de várias maneiras. Pelo o que sei, o simples ato de beneficiar uma rua de periferia com drenagem e pavimentação de boa qualidade, já ajuda. Os investimentos, muitas vezes exagerados, em espetáculos artísticos abertos ao público também contam. A postura séria e responsável diante das câmeras nacionais é um avanço. O zelo com o bem público representa um alento. E tudo isso sem falar no discurso real da sergipanidade.
A propósito, como escreveu certa vez o historiador Luiz Antonio Barreto, o 8 de julho de 1820, dia em que Sergipe foi emancipado politicamente da Bahia, tem sido convertido no símbolo da liberdade, da independência, da autonomia econômica, da construção da sociedade sergipana. E isso foi o que motivou esta crônica. Neste 2009, constatei um 8 de julho mais movimentado, mais intenso, cheio de significado e chamando a atenção de todos nós em relação ao amor à terra em que nascemos e vivemos. Um progresso.
Confesso que por enquanto sou um dos poucos bairristas convictos que existem por aqui. Aliás, sou um homem afeito a extremidades. Gosto de saborear a palavra auto-estima, quando o assunto é naturalidade. Não engulo com facilidade aquela história de que somos o menor Estado do país e por isso temos pouca ou quase nenhuma representatividade sobre vários aspectos. Isso não cola. A gente sergipana é tão brasileira quanto qualquer outra, de qualquer outra parte deste país continental. Nada a contestar.
Aliás, sei muito bem que vivemos cercados de estrangeiros, no bom sentido da palavra. Não há por aqui quem não tenha na família, seja lá em qualquer grau, um integrante nascido em terras alhures. Nas rodas de amizade há sempre aqueles bacanas que adotaram nossa terra e daqui não arredam pé. Sentem-se confortáveis, estáveis. Chegam a propalar por aí que vivem no melhor lugar do mundo, apesar das deficiências. Então, se é assim, por que nós mesmos não tomamos conta deste orgulho?
Às vezes me pergunto se em outros cantos deste país a situação se repete. Acho até que não. Por muitos anos vivemos imprensados entre culturas forasteiras e praticamente condenados a engolir porcarias que nunca se identificaram com a gente. Agora temos uma chance real de mudar o quadro. E para isso não precisa radicalizar contra ninguém. Basta impor o que temos de bom. Dar ouvidos à nossa música, apreciar nosso folclore, aplaudir nossa dança, valorizar nossa política social, divulgar nossa culinária, elogiar a beleza do nosso povo, preservar nossa história, enfim, exercer a sergipanidade. É saudável.

Desejo reprimido


Gilson Sousa


Era parcimonioso demais aquele rapaz. A moça só faltava esfregar o xibiu na cara dele. E nada. Também pudera, a mãe de Robisvanilson tinha dado uma educação meio estranha para o menino. Não tinha carrinho de lata, não tinha pião de madeira, não tinha pé de manga no quintal. Tinha era muita reza, dia e noite. Ninguém sabia pra quê. E acho que por isso Robisvanilson tenha ficado tão aluado agora que cresceu.
A moça danada trabalha no elevador da repartição. Suzaneide era o nome. Pelo visto, está acostumada a subir e descer com boa desenvoltura. Bonitinha, a peste. Dizem que estuda numa faculdade. Mas não tem cara, não. Ela gosta mesmo é de provocar Robisvanilson. Dia desses, inventou de ficar lendo uma bíblia, enquanto trabalhava. Boa estratégia. Perguntava coisas curiosas para o rapaz, mas ele fingia que não era com ele. Um aluado, na certa.
Pelo o que dizem, Robisvanilson não tem namorada nem nunca teve. Um donzelo do século 21, sem cerimônias. Suzaneide sabia disso. Tanto que a moça investia cada vez mais na insistência. Jogava duro. Mas o camarada era parcimonioso demais mesmo. Moço educado e respeitador. Algo pouco encontrado por aqui, mas que enchia de orgulho os pais e demais familiares do desprezador de mulheres.
O fato é que na semana passada, incentivada por algumas amigas atordoadas com o sofrimento da moça sibite, Suzaneide resolveu dar a cartada final. Comprou um vestido decente, uma sandália bacana, um perfume respeitador e foi no culto da igreja de Robisvanilson, lá no Bugio.
Estava ela decidida a furar o bloqueio. Sentou num banco perto do rapaz, cumprimentou a mãe dele, piscou um olho discretamente, ajeitou o decote, passou a mão no caleo e sussurrou no ouvido do moço: “Precisamos cumprir uma das lições de Deus e nos entregar à reprodução”, disse ela, para o espanto indescritível do moço respeitador.
“É agora ou nunca, Robinho...”, insistiu ela, antes de ouvir um grito alucinado no meio da igreja. “Senhor proteja-me, a gripe suína está entre nós. Valei-me, Jesus!.
Valei-me, irmãos!”. Foi aí que o pastor Adroaldo, muito dedicado aos adolescentes, não perdeu tempo e abraçou com força e carinho o filho de Deus em perigo. Uma comoção. E Suzaneide não teve tempo nem de lamentar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

No meio da passeata


Chico Ribeiro Neto (chicoribe@gmail.com) é jornalista

Aconteceu há uma semana. Tive que ir à Mouraria e – como sempre vou ao Centro de Salvador de ônibus e aparece muita lembrança -, resolvi voltar andando pela Avenida Joana Angélica. Foi quando, defronte ao Colégio Central, tive que passar pelo meio de uma passeata. Foi um verdadeiro ziguezague de recordações.
Há 40 anos vivíamos numa ditadura militar e o Brasil fervilhava de manifestações. Em 1966 eu era expulso do Central juntamente com os integrantes do Gateb, o Grupo Amador de Teatro Estudantil da Bahia, depois que foi censurada a peça “Aventuras e Desventuras de um Estudante”, de Carlos Sarno, o que desencadeou uma série de protestos estudantis, culminando com uma greve geral estudantil, secundarista e universitária.
Depois da peça censurada, resolvemos montá-la no Restaurante Universitário, na Vitória. As mesas juntas formavam o palco. Eu era o narrador e abria a peça. Na minha primeira fala, começou um corre-corre. Agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) comandaram a repressão. Me refugiei no quarto de um dos estudantes, enquanto a confusão aumentava e os policiais espancavam. A repressão fechou o cerco na cidade e alguns colegas do Gateb foram torturados e presos.
Nossas passeatas de 66 gritavam por liberdade, “abaixo a ditadura”, “abaixo o acordo MEC-Usaid”. Hoje, na porta do Central, as palavras de ordem são pelo passe livre de ônibus e também por maiores facilidades de acesso ao ensino superior.
Os tempos mudaram, mas os ideais são os mesmos. A passeata ficou mais alegre, talvez. Meninas dançavam axé à frente do carro de som. Tive vontade de pedir o microfone a um deles e gritar: “A luta continua, eu também gritei nas ruas, eu também tive esperança de um país melhor, e me esforço para continuar tendo”. Me contive e apressei os passos à frente da passeata. A cabeça dava voltas no passado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sou favorável às cotas na UFS. E você?


Há tempos venho prestando atenção nessa acirrada discussão da sociedade sobre cotas nas universidades públicas. Sou favorável às referidas reservas de vagas para negros, índios e estudantes de escolas públicas, sim. Com muita convicção. Mas ouço sempre as ponderações. Afinal, nascer com pele branca e viver nas benesses da classe média neste país é tarefa fácil, diante das dificuldades que enfrentam os irmãos de cor. Diga que não é!
Ontem, num telejornal local, vi o reitor da Universidade Federal de Sergipe, Josué Modesto, fazendo uma explanação e defendendo categoricamente o sistema que começa a ser adotado na instituição este ano. Por aqui, 50% das vagas no vestibular estão destinadas aos alunos oriundos de escolas públicas, sendo que desses 50%, 70% vai para negros e índios. Muito bacana, isso. Aplausos para a UFS.
Curioso foi ouvir o argumento de uma moça contrária ao sistema de reservas de vagas. Segundo ela, nos últimos dez anos vem se sacrificando ao máximo para pagar as mensalidades dos filhos nas melhores escolas particulares de Aracaju. Gasta cerca de R$ 1,5 mil por mês e por isso não se conforma com a possibilidade real de ter que ver seus filhos disputando apenas 50% das vagas em medicina. Ora, bolas. Mande seus filhos estudar mais um pouquinho, minha senhora. Afinal, estão nas melhores escolas da cidade.
Então é isso. O que sei é que na história da humanidade, nenhuma revolução foi levada à prática rodeada em louros. Ainda mais quando se trata de uma revolução no campo das injustiças sociais. As contestações, as intolerâncias, as incompreensões e as agressões sempre fazem parte do cardápio daqueles que se dizem contrários. Em geral, são pessoas que não conseguem enxergar um palmo sequer à frente do nariz. Não pensam na coletividade e vivem buscando argumentos para justificar a necessidade de satisfazer o auto-ego.
A propósito, falando em cotas para negros, toda aquela história de que se trata de uma reparação por causa dos incontáveis anos de exclusão das minorias no Brasil tem sentido. Só não entende quem não quer entender. Aliás, meu amigo Fernando Conceição, um respeitado estudioso e militante da causa negra no país, defende uma política afirmativa muito mais ampla, incluindo a reparação financeira para afro-descendentes. Isso, é claro, porque já foi comprovado que nossos ancestrais foram forçados a vir para o Brasil na época da escravidão e seus descendentes jamais foram indenizados por isso. Será que não bastou?

Gilson Sousa

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Adeus a Célio Nunes


São muitos os colegas jornalistas que nesta hora estão com os sentimentos abalados por conta do falecimento de Célio Nunes. É verdadeiramente uma perda irreparável. Um homem como poucos, que viveu intensamente à base da sua inteligência e proporcionou muita coisa boa nesse nosso jornalismo tão carente.
Sim, Célio Nunes morreu hoje. Morreu um dos jornalistas mais influentes e mais queridos neste Estado. Morreu um comunista convicto. Um literato. Um homem que semeou fatos importantes por onde passou. Um profissional apegado à qualidade do que fazia quando entrava numa redação de jornal e decifrava o mundo com suas palavras intrigantes.
Nos seus escritos, Célio era irônico, perspicaz, afável e agressivo ao mesmo tempo. Coisa que só os inteligentes conseguem fazer. Seja na crônica, no artigo, no conto. Por isso vamos ficar órfãos desse estilo para sempre.
Então vamos reverenciar aquele que foi capaz de criar um caderno cultural nesta cidade – o Arte e Literatura -, encartado no Jornal da Manhã, somente para desaguar a enorme produção literária que havia por aqui décadas passadas. Vamos reverenciar com orgulho aquele que brigou nas ruas do país contra o militarismo, foi preso, torturado, mas nunca largou seu ideal socialista de lado.
E Célio nos deixou. Foi juntar-se ao seu pai, Zé Nunes, outro comunista histórico que nos anos 60 e 70 esbravejou contra o regime de ditadura ao lado do meu pai, Luiz Pedro. E agora estão todos lá, não sei onde. Sei que cumpriram bem a missão aqui na Terra. Meu pai, meu amigo Célio, serei eternamente grato a vocês pelos ensinamentos e aberturas.
A propósito, nunca é demais lembrar que toda a minha relação com o jornalismo teve a participação vital de Célio Nunes. Foi o primeiro a me convidar para trabalhar numa redação em 1989. Foi o primeiro a colocar sua assinatura na minha carteira de trabalho novinha em folha. Foi o primeiro a abrir portas para mim. Foi e continuará sendo um mestre.
Que Deus proteja a sua alma, meu amigo Célio.

Gilson Sousa

Na foto, de 1990, estão Jackson da Silva Lima, José Carlos Teixeira, Santo Souza, eu, Jeová Santana e Célio Nunes.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aqui tem até ladrão de urubu


É bem sacana esse camarada que surrupiou o urubu albino do Parque dos Falcões em Itabaiana. Fiquei puto com a história. Ainda mais depois que soube que o animal raro, de quatro meses de idade, está bastante debilitado e precisando de cuidados especiais. Torço para que a polícia aja com eficiência neste caso, já que tem em mãos algumas pistas dos suspeitos, segundo a imprensa.
O urubu branco havia sido encontrado num pasto em Nossa Senhora da Glória. Quando foi levado ao Parque dos Falcões, para ficar sob os cuidados do competente Percílio, ele estava debilitado e tinha ferimentos. Agora, depois que a ave rara foi recuperada e mostrada ao mundo pela mídia nacional, vem uns engraçadinhos e leva o bicho. O curioso, segundo os biólogos, é que por não enxergar tão bem quanto o urubu preto, o albino tem mais dificuldades para se defender dos predadores e encontrar alimento, o que faz dele uma presa fácil na natureza.
Aí, vem um amigo meu muito gaiato e solta essa: “Por enquanto a polícia tem apenas uma pista do ladrão. Acha que foi algum vascaíno racista, já que além de invejoso, acredita que o símbolo dos flamenguistas precisa manter suas características”. É mole?

Gilson Sousa

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Caça ao bandido


Para os jornalistas que recentemente perderam o diploma como requisito para o exercício da profissão e estão com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, atravessado na garganta, preparem suas colheres de pau, panelas, apitos e narizes de palhaço. O ministro estará em carne e osso no próximo dia 14, às 19 horas, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju. Mas, calma! Ele não irá interpretar nenhuma peça como coronel, senhor de engenho ou de exterminador de movimentos sociais.
Ele estará proferindo a palestra de encerramento da VIII Semana Jurídica Nacional promovida pela Universidade Tiradentes. E o Sindicato dos Jornalistas, juntamente com outras representações sindicais, estará na porta do TTB para 'recepcionar' o ilustre ministro – que disse que exercer o jornalismo é o mesmo que cozinhar ou costurar – com um ato público, com direito a apitaço, panelaço e narizes de palhaço, representando o ministro, claro.
"Vamos estar lá para mostrar toda a nossa indignação com o ministro que derrubou o diploma de jornalista e todo o nosso repúdio pelo seu voto estapafúrdio como relator, e para mostrar a sociedade que esse senhor, como bem disse o ministro Joaquim Barbosa, é uma vergonha para o Judiciário, como também para todo o povo brasileiro. E vamos engrossar o coro do ‘Fora, Gilmar Mendes’", avisa o presidente do Sindijor, George Washington.
"Aproveito para conclamar desde já a todos os estudantes, que tiveram o seu diploma desvalorizado e todo o investimento que fizeram perdido, graças ao voto do eminente ministro, e também aos colegas profissionais diplomados a se somarem a esse ato de repúdio ao presidente do STF, que tanto se notabiliza pelas suas perseguições aos trabalhadores e aos movimentos sociais, e agora por acabar com o nosso diploma", diz Washington.
Fonte: Sindijor/SE

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Que peste Calcinha Preta tem a ver com Michael Jackson?


Esta postagem está consideravelmente atrasada, mas o oportunismo da banda Calcinha Preta está atualizado até demais. Explico: cerca de dez dias após a morte de Michael Jackson, em 25 de junho deste ano, o empresário Gilton Andrade, dono da banda de pseudo-forró, executou uma jogada de mestre. Encomendou uma versão apelativa da música Ben, um dos maiores sucessos do astro americano, e mandou seu pessoal gravar em estúdio a toque de caixa como forma de homenagem ao rei do pop, Michael Jackson.
No dia seguinte à gravação, a música estava rolando nas emissoras fm daqui e de outros estados. Prova disso é o monte de comentários, positivos e negativos, em sites de música. O arranjo é incrivelmente idêntico ao original, com os vocais e tudo o mais. Mas a versão é piegas e apelativa. No entanto, fácil de comover os bestas.
A propósito, Ben foi o segundo álbum da carreira solo de Michael, lançado em agosto de 1972, sete meses depois de seu álbum de estréia, Got to Be There. A música rapidamente atingiu o primeiro lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos, vendendo mais de um milhão de cópias do disco. Já a banda Calcinha Preta, com o seu oportunismo, tem conquistado espaço considerável na mídia com a sua apelação. Vejam alguns versos da coisa: “Bem, já soube que você se foi/ Que saudade que em mim ficou/ De você nasceu o amor a quem mais precisou.../ Agora sei, dói em mim, você se foi infeliz”. É mole ou quer mais?

Gilson Sousa

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O caso da “anciã viril”


Chico Ribeiro Neto (chicoribe@gmail.com) é jornalista

O diretor do Ginásio São Bento me escolheu pra fazer o discurso no aniversário de Salvador. Perdi a noite em cima do caderno. O pior foi descobrir uma frase que falasse que Salvador, apesar de antiga, era moderna. Aí cometi a seguinte pérola: “Salvador, esta anciã viril...”
Os colegas me aplaudiram junto às bandeiras do Brasil e da Bahia e o diretor do Ginásio, D. Norberto Santana, apertou a minha mão, disse que gostou, mas observou: “Aquela imagem de anciã viril foi que não ficou muito boa”. Anos depois, meu irmão Cleomar gozava com minha cara: “Anciã viril é uma velhinha de pau duro”.
A cada aniversário de Salvador me lembro dessa história. De lá pra cá, a gente foi ficando mais velho.
Lembro que, voltando de uma festa, um grupo de umas 15 pessoas, as meninas iam a pé com o sapato alto nas mãos, andando pela Avenida Vasco da Gama, para chegar até a Praça da Sé e pegar o lotação de Barbalho. Era década de 60, quando o bolinho da Cubana era novidade e meu irmão mais velho contava as histórias do Café das Meninas, na Ajuda.
Fui de turma de rua, a Turma dos Aflitos, antes de chegar a TV Itapoan. Quando a TV chegou, todo mundo foi parar na sala da tia de Chico Canela, a única casa que já tinha o aparelho. Deixamos de roubar as bandeirinhas do 2 de Julho que os homens da Prefeitura penduravam nos postes na véspera da maior data da Bahia.
As pedras da praia do Unhão, onde mergulhei muito dos oito aos 16 anos, brilham na minha lembrança. Com um amigo, Zoinho, roubamos “madeirit” da construção da Avenida Contorno pra fazer uma catraia, um barquinho de madeira que Cleomar apelidou de “Minas Gerais”, em homenagem ao nosso poderoso porta-aviões.
“A rua toda namorou com as Irmãs Tripa”, diziam com algum exagero, mas as magrelas eram fogo.
Mergulho de novo no Unhão e lá do meio do mar, de onde a gente “avistava o Elevador Lacerda”, no caminho que a luz do sol formava até o horizonte quando era de tardinha, mando um beijo para esta amada anciã.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lugar de derrotados é na série D mesmo


Foi providencial o editorial lido pelo apresentador do Globo Esporte local hoje, segunda-feira, após a humilhante derrota do Confiança para o Icasa (CE) por 4 a 0, no domingo. De fato, aqueles rapazes que vestiam o uniforme azul e branco não são jogadores profissionais e muito menos o técnico entende de alguma coisa parecida com futebol. Era o jogo da vida do time, que deveria lutar, ao menos, para não ser rebaixado de série no campeonato brasileiro. Bastava um empate. Tiveram 15 dias só para treinamentos. Mas...
A TV Sergipe foi na veia. Agrediu, de forma verdadeira, mas deu o tom do merecimento àquele time. Foi feio, companheiros. Muito feio. O clube iludiu os torcedores no início do ano e acabou mostrando um nível de descompromisso e irresponsabilidade sem igual. Não dá para engolir a seco tamanho descaso. E depois de tudo, para nós, torcedores, fica claro somente que o Confiança irá figurar justamente no lugar que merece ficar por muito tempo. Na série D, dos derrotados.

Gilson Sousa

sexta-feira, 31 de julho de 2009

De Bar em Bar: O Panela da Arte


A Atalaia era um matagal. Depois da Boate Tio Zé, acabavam-se os caminhos respeitáveis. Além, só os guauçás conviviam por entre trilhas abertas por pescadores afoitos e amantes em busca de esconderijo para o bem-bom do amor sem testemunhas. Era o “Motel das Estrelas”, providencial abrigo para fodelanças baratas, justificadas até por um delegado atento a essas necessidades que instituiu o conceito de “território do amor” àqueles lados da praia, e, portanto, garantia o amor municipal nas areias da Atalaia sem muitos sustos. Tornou-se fácil e maravilhoso tanger uma conquista amorosa para o meio do matagal e, sob o teto de estrelas e a apregoada garantia policial, gozar, até que a madrugada dissesse basta!

Foi então que Ricardo Nunes abriu nas lonjuras daquele matagal, o bar “Panela da Arte”. Ficava a não sei quantos metros da fronteira permitida, lá dentro do maravilhoso matagal. Só ia lá quem tinha negócio. O “Panela” foi o lugar onde curti o que nos tornava a juventude de então: muita maconha e de vez em quando um “Sunchine” – gota lisérgica transportada das ilhas britânicas para cá. Adorávamos ficar de bobeira, rindo sem saber porque das florezinhas da estrada, da felicidade que nos vinha à cores – o mundo belo percebido além da realidade, a alegria de compartilhar sensações universais.

O “Panela” era um palco. Consistia em dezenas de almofadas no chão e lâmpadas estreboscópicas de luz negra, onde nos maravilhava sentir o universo escorregando entre os dedos e onde nos era permitido viajar aos territórios psicodélicos que nos interessavam. Grandes viagens. Lá se acenderam fogueiras à melhor arte que acontecia no mundo: das artes plásticas à literatura, do balé russo às invenções de Alvin Ailey, e, finalmente, à liberação da dança em filmes como “Hair” e “Jesus Cristo Superstar” exibidos pelo querido Cézar Macieira para deleite geral.

Na hora de pagar a conta, era assim: cada um avaliava a sua. Servir-se, também era liberado: tinha almôndegas fritas, sucos de maracujá e graviola, e iscas de fígado. Mas o maluco que as quisesse que fosse para cozinha, preparar o seu repasto. Ricardo estaria por ali, talvez nas praças de Amsterdam - um dono de bar sem conta para apresentar. Nunca um bar tão maluco mereceu tanto a nossa memória como o “Panela da Arte”.

É isso ai, bicho!

Amaral Cavalcante – julho/2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Larry Rohter e a cachaça de Lula



Em tempo de discussões acirradas em torno da profissão de jornalismo, um bom livro que conta histórias de um jornalista me chamou a atenção. Trata-se de “Deu no New York Times – O Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo”. O repórter em questão é Larry Rohter, o polêmico e corajoso americano que quase foi expulso do país em 2004 por escrever uma bela reportagem sobre as bebedeiras do presidente Lula.
Na verdade, o talento de Larry como jornalista é indiscutível. O problema é que ele é declaradamente preconceituoso em relação a Lula enquanto presidente da República. Aliás, no livro deixa claro que é admirador da política de Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente neoliberal e entreguista. Mas nada disso faz do livro algo ruim. Pelo contrário, os textos inéditos e reportagens republicadas mostram um Brasil que muitos de nós desconhecemos.
O americano Larry, sem dúvida, tem uma base cultural espetacular. É fã declarado do Brasil, em vários aspectos. Diz que o resultado do seu livro “é um retrato ao mesmo tempo contundente e apaixonado do país, que passa longe, muito longe, do Brasil ‘para gringo ver’”. Todavia, ele foi pegar logo no pé do PT e acabou se metendo em várias encrencas por aqui.
“Eu tinha me tornado muito mais que uma pedra no sapato deles, atrapalhando, com minhas matérias críticas, os planos para aumentar o prestígio de Lula no cenário internacional. Portanto, eles queriam se livrar de mim”, confessou, sem modéstia, o jornalista. Além da cachaça do presidente, ele foi fundo na história do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Campinas, como também no episódio do Mensalão que escandalizou o país.
E cá para nós. É claro que o problema de Lula com a cachaça não dá para esconder de ninguém. Mas sair reportagem no New York Times foi demais para a vaidade dos petistas. A propósito, até aqui em Aracaju, nos áureos tempos do bar Gosto Gostoso (década de 1980), vez ou outra o então sindicalista Lula aparecia rodeado de petistas e enfiado na cachaça oferecida pelo boa praça Fernando Montalvão. Vai negar?
Além disso, as piadas sobre o assunto são comuns e corriqueiras país afora. Gosto de uma que diz que conselho de mãe nunca é bom seguir à risca. Nesse caso, a mãe de Lula havia dito a ele várias vezes: “Você pensa que sem estudar, sem trabalhar e bebendo cachaça vai ser alguém na vida?”. Pois é. Deu no que deu.

Gilson Sousa

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Êita Rubinho azarado!


Eu sei que não é legal ficar alimentando isso, mas o Rubinho Barrichello, piloto da equipe Brawn, é azarado demais. Senão vejamos: além de nunca ter conquistado um título na fórmula 1, apesar de já ter pilotado carros potentes, ele também não conseguiu vencer sequer uma corrida este ano. E tem nas mãos um dos carros mais competitivos da temporada, já que seu companheiro de equipe, Jenson Button, ganhou sete e lidera o campeonato.
Pois bem. No grave acidente ocorrido no sábado passado com o também brasileiro Felipe Massa, piloto da Ferrari, quem vocês acham que acabou provocando o fato? Mesmo sem querer, é claro: Rubinho Barrichello. Isso porque a quebra de uma mola do amortecedor da suspensão traseira do carro dele causou o acidente no rosto de Felipe Massa. Dá para acreditar nisso?
O brasileiro da Ferrari ainda está internado num hospital de Budapeste por conta de uma concussão cerebral provocada pelo choque. Já o dono da equipe de Rubinho, Ross Brawn, confirmou que a mola era mesmo do bólido de Barrichello. “Foi a terceira mola do amortecedor traseiro que se soltou do carro de Rubens e acertou Felipe. Ainda estamos investigando o que houve, pois a FIA ainda não nos entregou a peça. Assim que a tivermos em mãos, vamos poder compreender o que aconteceu”, justificou o moço.


Gilson Sousa

Eu bem que avisei...


“Antes de começar, greve do TJ é ilegal”. Este foi justamente o título da matéria publicada na edição de sábado (25/07) do Jornal do Dia. Nela, a repórter Cândida Oliveira confirmou a previsão deste blog em relação ao movimento planejado pelos servidores do Tribunal de Justiça e aprovado em assembleia. A greve aconteceria (ou acontecerá) amanhã e quarta-feira.
Pois bem. Acontece que a juíza Elvira Maria de Almeida Silva, segundo a reportagem de sábado, concedeu a tutela antecipada ao Estado determinando que o sindicato se abstenha de promover a paralisação. Ela também ameaça cobrar multa de R$ 1 mil por dia, ao sindicato, caso a decisão seja desrespeitada. Algo muito previsível.
Mas aí li hoje na coluna de Adiberto de Souza, no portal Infonet, a seguinte nota: “Apesar da tutela antecipada considerando ilegal a greve dos servidores da Justiça sergipana, estes prometem paralisar as atividades amanhã e quarta-feira. Para mostrar que a decisão judicial não vai abortar o movimento paredista, o Sindicato da categoria (Sindiserj) está veiculando comunicado nas televisões conclamando os associados a cruzarem os braços. Entre as reivindicações dos servidores está a proposta de reajuste salarial de 26%. Os entendimentos entre os futuros grevistas e a presidência do Tribunal de Justiça ficaram estremecidos depois que a Assembléia Legislativa aprovou a criação de cargos em comissão para aquele Poder. Segundo o Sindiserj, se há recursos para pagar CCs, deve haver para reajustar os salários dos servidores efetivos. Caso a greve ocorra mesmo, esta será a primeira vez que a Justiça de Sergipe será paralisada”. E agora, José?

Gilson Sousa

terça-feira, 21 de julho de 2009

Trabalhadores de coragem


A foto acima mostra um ato de coragem sem precedentes. Achei bacana demais. Daí resolvi associar à notícia que li hoje nos jornais locais, dando conta de uma possível greve dos servidores do Tribunal de Justiça. Só faltava essa. E digo que vai ser engraçado ver os magistrados julgando a legalidade ou não da greve feita embaixo do nariz deles. O que vocês acham que vai dar?
Essa, segundo a informação, será a primeira greve na história da categoria judiciária em Sergipe. Muita coragem, né não?. Também acho. A propósito, os trabalhadores, que marcaram a parada das atividades para os dias 28 e 29 de julho, estão cobertos de razão nas suas reivindicações. Lutam pela implantação de um legítimo o Plano de Cargos e Salários e querem diminuir a disparidade salarial entre efetivos e comissionados.
Pelo o que fiquei sabendo, enquanto um agente judiciário recebe R$ 968,37, um cargo em comissão do Judiciário chega a ganhar por mês R$ 13.357,40. “Nós temos uma pauta extensa de reivindicações, contendo 20 itens, entre eles, ação judicial dos interníveis, URV e Plano de Cargos e Salários”, avisou o presidente do sindicato da categoria, Hélcio Albuquerque. Parabéns, camaradas.

Gilson Sousa