sexta-feira, 24 de junho de 2011

Mestrinho e o grande mestre da sanfona


Confessemos: deu um orgulho danado ver o menino Mestrinho, sergipano legítimo, tocando sua estilosa sanfona ao lado de Dominguinhos, o mestre dos mestres entre os forrozeiros da atualidade, no palco do Forró Caju. Aliás, a cara de satisfação de Dominguinhos diante do menino já nos contemplava. “Os jovens não podem deixar morrer a obra do nosso grande Luiz Gonzaga”, determinou o grande mestre, quando chamou Mestrinho para também cantar uma música durante o show.
A propósito, Mestrinho tem DNA de forrozeiro de primeira linha. É filho de Erivaldo de Carira e possui vários outros artistas na família, incluindo o também sanfoneiro Erivaldinho, seu irmão. No ano passado foi convidado para integrar a banda de Elba Ramalho, mas recusou. Logo depois o velho Dominguinhos formulou o mesmo convite e dessa vez ele não recusou. “Dominguinhos é Dominguinhos”, disse ele.
Sendo assim, Mestrinho começa a trilhar o caminho do sucesso com seu instrumento e sua voz. Talento para isso ele tem de sobra. E quem conhece atesta. Já o mestre Dominguinhos, à essa altura do campeonato, anda sofrendo boicotes inexplicáveis. Em outros estados nordestinos, a exemplo de Pernambuco, sua terra natal, Dominguinhos foi excluído dos festejos juninos por conta de suas opções políticas. Um absurdo, mas o bom é saber que a arte dele está acima de tudo isso. Ainda mais agora, com a força jovial do nosso Mestrinho.

Gilson Sousa
Foto: André Moreira

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gentileza gera gentileza


Não tenho dúvida. A gentileza melhora as pessoas. Melhora o mundo. Gentileza gera gentileza. Era isso o que pregava o profeta que no início da década de 1990 eu sempre encontrava perambulando pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro. O profeta, é bem verdade, tinha uma história triste para contar. Havia perdido toda a sua família num incêndio que acabou com o circo que administrava em turnês pelo interior do Rio. Daí passou a viver nas ruas pregando a paz, o amor a Deus e, claro, a indispensável geração de gentileza. Artistas como Gonzaguinha e Marisa Monte o homenagearam com músicas belíssimas. Mas o que ele e quase todos nós queremos, é que a gentileza humana tome conta do mundo de uma vez por todas. Essa sim seria uma atitude gentil e precisa.

Gilson Sousa

domingo, 12 de junho de 2011

Djavan: isso sim é que é um show




A passagem de Djavan com o show Ária pelo palco do Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, selou de vez a ideia de que o alagoano ainda detém o título de artista pop mais qualificado no cenário atual da MPB. Foi um show como há muito tempo não se vê nessa cidade. Era um Djavan leve, solto, muito dono de si em todos os aspectos.
Subiu ao palco com um formato de banda bastante enxuto, apenas com guitarra (Torcuato Mariano), baixo (André Vasconcelos) e percussão (Marcos Suzano). Mas nem por isso deixou de emocionar e também colocar todo mundo pra dançar em plena estrutura sisuda do teatro mais importante da cidade.
Além de boa parte das músicas que compõem o cd Ária, todos os grandes hits estiveram presentes no show. Fato Consumado, Flor de Lis, Samurai, Lilás, Oceano, Sina, Lambada de Serpente, Pétala. Era algo para satisfazer gregos e sergipanos. “Essa é a melhor parte da nossa turnê. Eu adoro estar pelo Nordeste, a região mais bacana do país”, confirmou Djavan, diante de uma legião de admiradores.
De diferente mesmo no repertório de hits, apenas a canção Transe, do disco Lilás gravado em 1984. Ademais, o público foi ao delírio com as interpretações seguras de Sabes Mentir, Brigas Nunca Mais, Oração ao Tempo, Palco, Disfarça e Chora. Em mais de uma hora e meia de show, Djavan dançou, interagiu com a plateia, fez elogios sinceros à cidade e garantiu uma noite ‘linda, sensual e sexual’ a centenas de casais que lotaram o teatro. Isso sim é que é um show.

Gilson Sousa

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Geraldo Azevedo e a homenagem ao São Francisco


Nenhum rio no Brasil, quiçá no mundo, foi mais cantado que o São Francisco, o rio da integração nacional. Centenas de trabalhos em verso e prosa foram dedicados a ele desde o tempo em que a gente se entende como brasileiros do Nordeste. Só que dessa vez, o outrora caudaloso flúmen ganhou uma homenagem especial vinda do pernambucano Geraldo Azevedo: o cd e dvd ‘Salve São Francisco’.
O trabalho é de uma beleza plástica admirável. Tem uma qualidade musical acima da média. Reúne, para vocês terem uma ideia, além de Geraldo, vários nomes consagrados da MPB como Djavan, Alceu Valença, Moraes Moreira, Fernanda Takai, Ivete Sangalo, Dominguinhos, Maria Bethânia, Robertinho do Recife e outros. Segundo a produção, eles foram buscar artistas representantes de cada Estado por onde o rio passa. Só que esqueceram de Sergipe.
Isso mesmo. Apesar de o rio São Francisco, o homenageado, passar também por Sergipe – aliás, desaguar em Sergipe -, ninguém daqui foi convidado por Geraldo para participar do trabalho. Lamentável. Mas o fato é que o resultado final do disco ficou muito bom e o tributo ao Velho Chico é digno de elogios.
A propósito, Geraldo Azevedo, que é ribeirinho nascido e criado em Petrolina, sempre se mostrou um cidadão defensor do uso consciente da água. No dvd ele aponta que o São Francisco passa por cinco Estados (Minas, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), abastecendo mais de 5 milhões de lares, irrigando mais de 70 milhões de hectares e alimentando mais de um milhão de espécies nativas na caatinga. Portanto, merecida a homenagem ao rio, mas lamentável a ausência de sergipanos no projeto.

Gilson Sousa