terça-feira, 23 de abril de 2013

Intervenção na TV Sergipe

Defendo veementemente uma intervenção da Rede Globo de Televisão na programação jornalística de sua afiliada em Sergipe. Principalmente em períodos que antecedem festas e eventos organizados pela emissora da família Franco. E as justificativas são várias. A bola da vez são as ‘mega-reportagens’ feitas nos últimos dias para promover um tal de Forrozão. A coisa ocupa um tempo gigante nos telejornais, passa longe do conceito de jornalismo, e ainda exalta figuras da música que nada têm a ver com Sergipe. Aliás, o acinte é tão grande que a emissora se dá ao luxo de enviar a outros estados uma equipe completa de profissionais da comunicação para executar a tarefa. E tudo isso, é claro, desvirtuando do sentido jornalístico. Nada do que fazem é notícia, como deveria ser. Portanto, eis o primeiro motivo para a intervenção. Quem acompanha noticiários com frequência, por interesse próprio ou por dever do ofício, sabe que essa prática da TV Sergipe não vigora a partir de então. E essa mania de fazer autopromoção de suas festas e eventos utilizando o precioso espaço do telejornalismo precisa ter um fim. Não é bacana ficar empurrando goela abaixo artistas de segunda linha como Gabriel Gava, Wesley Safadão, Simone e Simária, Pablo, Dorgival Dantas e outra meia dúzia de cantores e bandas de gosto duvidoso. Digo ‘gosto duvidoso’ somente para ser gentil com eles. E tudo isso, senhores e senhoras, é feito em detrimento da cultura local. O que por si só já valeria também uma intervenção. A propósito, eu sei e todo mundo na TV sabe que quando o departamento comercial se sobrepõe ao jornalismo, a coisa desanda em relação à qualidade do trabalho. É preciso haver equilíbrio nessa relação, e a emissora em questão não está sabendo praticar o fato. Portanto esse, certamente, seria mais um motivo para a intervenção. É bem verdade que a TV Sergipe conta com um quadro de bons profissionais da comunicação, pessoas de boa formação acadêmica, mas passa a impressão de que nada disso está sendo levado em conta na hora de produzir jornalismo de qualidade. O trivial e o factual sustentam a sua programação telejornalística. Quando a meta é aparecer no plano nacional, parece que se contentam com as reportagens sobre roteiros turísticos ou sobre a seca que há séculos assola a região nordeste e já se transformou em pauta permanente do telejornalismo nacional. Nada mais. Nada no campo da ciência, do esporte, da educação... Então vamos lembrar que estamos tratando de uma concessão pública, com obrigações constitucionais e deveres com a sociedade. O fato de a emissora ter um dono com seus interesses financeiros não significa dizer que ela está aí para se pautar nas autopromoções e engabelar o povo ao bel prazer. No passado, essa mesma emissora, por defender tanto interesses políticos próprios, acabou sofrendo sua primeira intervenção. Parece que não aprendeu. Assim sendo, quer falar de música? Quer valorizar o que há de melhor por aqui? Quer educar o telespectador sergipano em relação às suas raízes? Então busquem abrir mais espaços jornalísticos para eventos como o Tributo a Irmão, que acontecerá no dia 2 de maio nos arredores do Centro de Criatividade. Ali estarão fazendo uma merecida homenagem a Irmão, cantor aracajuano falecido em novembro de 2010, artistas como Tonho Baixinho, Paulo Lobo, Rubens Lisboa, Heitor Mendonça, Cataluzes, Elvis Boa Morte, Rogério, Sena, Amorosa, Joésia Ramos, Joaquim Antonio, João da Passarada, Olga Gutierrez, Antônio Carlos du Aracaju, Mingo Santana, Neu Fontes, Jorgival Porto, Antônio Rogério, Chico Queiroga, Jorge Ducci e alguns outros. Aí sim a emissora dos Franco estaria cumprindo seu papel social e profissional. No mais, são por essas e outras que a TV Sergipe perde cada vez mais espaço para as concorrentes, principalmente para a TV Atalaia, que também é dos Franco, mas que trabalha alinhada à linguagem do ‘povão’, de forma proposital, e sem deixar de praticar o jornalismo na sua essência.