quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O especialista em belas imagens


É fácil constatar. Os pontos turísticos de Sergipe ficam mais bonitos através das lentes do fotógrafo César de Oliveira, um experiente repórter fotográfico que vira e mexe direciona seu talento ao registro de paisagens e outras coisas mais. César é especialista em desbravar ângulos e performances. É um estudioso da arte e por isso consegue sempre bons resultados no seu trabalho.
Dia desses, ao chegar à Assembleia Legislativa para trabalhar, deparei-me com um diferente e imenso painel instalado na área de recepção e não pensei duas vezes em relação ao autor. Era coisa do César. Uma belíssima imagem, em 180°, da praça Fausto Cardoso, centro da cidade.
Na foto, de formatação inédita, a visão vai desde o prédio da própria Assembleia, na esquina da avenida Ivo do Prado, até o Palácio do Governo, eternamente em reforma, ali no início do calçadão da João Pessoa. No centro da foto, a emblemática estátua de Fausto Cardoso. Uma beleza de fotografia, certamente.
Mas o negócio não para por aí. Também no prédio da Assembleia, mais especificamente nos corredores em cada um dos andares, existem imagens feitas por César retratando vários aspectos do Estado. São manifestações folclóricas no interior, festas populares, cânion de Xingó, em Canindé do São Francisco, e outras mais. É uma espécie de exposição permanente para exaltar o trabalho de um profissional sergipano de grande valor.
E como se tudo isso não bastasse, César é um camarada de primeira linha. Em relação à vida política, tem um olho clínico que é privilégio de poucos por aqui. As mais tradicionais figuras do universo político local já foram fotografadas por ele em situações pouco convencionais. Mas esse acervo é guardado a sete chaves.
No mais, digo que numa outra oportunidade falaremos um pouco mais do trabalho de César de Oliveira, mostrando exemplos admiráveis da sua arte de fotografar. Mas se você quiser mais informações, acesse o site dele (www.photosdesergipe.com), que por enquanto está em processo de construção, mas em breve virá cheio de novidades.

Gilson Sousa

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Herdei um tesouro literário


Tem pirata que corre o mundo atrás de tesouros. Tem gente que se vira atrás de preciosidades. Tem indivíduo que faz de tudo para conseguir uma jóia verdadeira. Mas tem gente que dá sorte. E eu estou nessa. Acabei de ganhar um tesouro sem definição. Não um tesouro daqueles abarrotados de ouro e prata. Mas um tesouro em forma de livros que fazem parte de cinco coleções: Os imortais da literatura universal; Clássicos Modernos; Mestres da literatura brasileira e portuguesa; Grandes Romancistas; Teatro Vivo.
O presente veio do amigo Cleomar Brandi. São cerca de 80 livros, incluindo pequenas biografias dos autores, que ele leu durante anos quando esteve impossibilitado de caminhar. Passou um bom tempo da juventude na cama, após perder os movimentos das pernas, e dedicou-se à leitura constante. Agora, passados mais de 40 anos, os livros são meus. Farão parte da minha estante. Mas o desafio, já sei disso, vai ser mergulhar de cabeça nesse universo literário e aproveitar ao máximo as honras do tesouro.
Entre os clássicos estão: Moby Dick, de Herman Melville; As Vinhas da Ira, de John Steinbeck; O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; Moll Flanders, de Daniel Defoe; As Aventuras do Sr. Pickwick, de Charles Dickens; O Cristo Recrucificado, de Nikos Kazantzakis; Lorde Jim, de Joseph Conrad; Decamerão, de Giovanni Boccaccio; O Primo Basílio, de Eça de Queiroz; Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo; Os Irmãos Karamazovi, de Fiódor Dostoievski; Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac; enfim, uma coleção de fôlego.
A propósito, qualquer ser humano que tenha lido tudo isso pode se considerar um mestre em literatura sem que seja preciso ir aos bancos da universidade. Tenham certeza. Os mais de 50 livros representam um apanhado significativo da literatura mundial produzida em séculos passados. Então por isso a inteligência literária do Cleomar, jornalista de ponta, é tão privilegiada. Por isso aquela capacidade de compreensão do mundo. Por isso tanta sabedoria na cabeça de um homem que se mostra profundo conhecedor das letras.
E voltando aos livros, nas coleções ainda tem Lolita, de Vladimir Nabokov; Às sombras das raparigas em flor, de Proust; A Leste do Éden, de Steinbeck; As ilhas da corrente, de Hemingway; Estrela da vida inteira, de Manuel Bandeira; A grande arte, de Rubem Fonseca; A casa da paixão, de Nélida Piñon; Capitães de areia, de Jorge Amado; As terras ásperas, de Rachel de Queiroz. Quer mais?. Tem Hamlet, de William Shakespeare; Édipo Rei, de Sófocles; e mais um bom bocado de jóias literárias. É ou não é um tesouro?

Gilson Sousa

sábado, 17 de outubro de 2009

Violência institucionalizada no Rio


Sempre disse que a cidade do Rio de Janeiro não merece boa parte do povo que tem. É um contraste danado. O lugar mais bonito do mundo abrigando uma gente violenta, pouco afeita às cordialidades. Morei lá durante cinco anos, sei da dimensão de sua importância no cenário cultural e acadêmico do país, mas jamais gostaria de fixar residência num local assim.
Digo isso a propósito do noticiário de hoje, mais uma vez, enfocando a guerra entre traficantes e policiais. Dessa vez derrubaram até um helicóptero da PM, matando duas pessoas e feriando outras quatro. Êta bandidagem ousada. Eles mandam mesmo naqueles morros e quem quiser que ande na linha. Senão o bicho pega pra valer.
A propósito, já bebi cerveja no Morro do Macaco, com meu amigo Gilberto, e nunca havia sido importunado por quem quer que seja. O morro, onde aconteceu o confronto de hoje, fica por ali, próximo ao bairro de Vila Isabel e ao Grajaú, onde Gilberto morava. Sempre pisei lá pianinho. Via muita gente exibindo armamento pesado, mas jamais procurava qualquer faísca. Dei sorte.
Enfim, o que quero dizer é que o Rio, decididamente, não merece aquele povo da banda podre. E não são só os bandidos não. Tem policial, tem doutor, tem o escambal. É uma pena. Até porque as pessoas de bem, que são muitas, ficam obrigadas a viver em estado de pânico. Tá pensando que é brincadeira! Hoje foram só dois policiais militares que morreram na queda do helicóptero, além de dez bandidos logo depois. Mas se for calcular o número de tragédias diárias, o Jornal Nacional viraria boletim do IML carioca.

Gilson Sousa

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Seleção sub-20: o preço da incompetência


Ainda bem que aprendi a ser frio. Na tarde desta sexta-feira resolvi ficar em casa, com minhas latinhas de cerveja na geladeira, para ver pela televisão o jogo entre Brasil e Gana, valendo o campeonato mundial de futebol de seleções sub-20. Ou seja, jogadores com menos de 20 anos de idade. Pois bem. Juro que esperava uma vitória, como quase todo mundo, dos canarinhos.
Fiquei empolgado com o início da partida. Só dava Brasil. Gana, apesar de ter um time muito bom, estava recuada, esperando o Brasil impor sua superioridade em campo. Daí, tudo bem. O domínio total era mesmo do Brasil, desde o primeiro minuto. Ainda mais quando aos 37 do primeiro tempo, ainda, o time africano teve um zagueiro expulso. Pronto. Aí tudo iria ficar mais fácil para os amarelinhos.
Que nada. O que eu vi, sinceramente, foi um bando de jogador covarde. São bons de bola, sim senhor. Mas covardes. Nem parecia que estavam disputando uma final de mundial. Todos dispersos e sem criatividade. Um tal de Alex Teixeira, muito badalado pela mídia, era o mais mascarado. Outro tal de Alan Kardek era impreciso demais. Um chamado Douglas Costa, também badalado, chegou a pisar na bola várias vezes.
O craque do time, um sujeito de nome Giuliano, estava sem precisão alguma em campo. Um ou outro até que corria, como o lateral Diogo, mas sem objetividade. “Tecnicamente, se esperava mais desta equipe”, resumiu um comentarista do canal SporTV. E eu ali, quase impaciente, sem entender o que estava acontecendo com os brasileiros. Até porque Gana estava praticamente entregue, até admirando o futebol brasileiro.
O jogo foi para a prorrogação de 30 minutos. Estava ainda 0 a 0. E sinceramente pensei que ali liquidaríamos a fatura. Que nada. O Brasil foi covarde, essa é a verdade. Pagou o preço da incompetência. Demonstrou falta de vontade, excesso de prudência, sei lá. E não é assim que o brasileiro tem que ser. No fim, disputa do título nos pênaltis, deu Gana. Aí o Brasil perdeu mais uma. Mas quem liga para isso?

Gilson Sousa

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A vingança da princesa


Por aí, já tinha visto atleta se transformar em técnico, cobrador de ônibus se transformar em motorista, policial virar bandido, advogado virar vendedor de cachorro-quente e outras coisas mais. Mas o inusitado sempre acontece. Dessa vez, conheci uma modelo fotográfica que se transformou em fotógrafa. História porreta. É da Juliana Ivo Costa, uma morena de endoidecer, como diz o seu conterrâneo, Djavan.
Juliana, estudante de jornalismo alagoana, é uma daquelas pessoas super de bem com a vida. Linda do dedão do pé ao último fio de cabelo, contou-me que já posou demais nessa vida. Durante anos, na fase adolescente, freqüentou dezenas de estúdios fotográficos, fez centenas de ensaios, passou horas e horas nas mãos de cabeleireiros, maquiadores e estilistas. Mas ela cansou.
A bela moça, que chega a ser irreverente, deu um basta nessa história de modelo e armou uma espécie de contra-ataque. Sim, Juliana comprou uma poderosa máquina fotográfica, pegou umas aulinhas e saiu mundo afora clicando os outros. Não como profissional, mas como amadora no sentido mais profundo da palavra. Ela ama registrar o povo. Faz imagens inusitadas, registra momentos improváveis, brinca com as expressões dos anônimos. Ela é uma figura.
É difícil ver Juliana por aí sem a máquina agregada ao corpo dela. Suas lentes são atentas, seu estilo é discreto. Aliás, não é muito difícil para ela convencer as pessoas a posarem para suas fotos também. Até porque Juliana encanta. É como se fosse uma princesa se vingando de um passado sufocante. E assim ela prossegue, clicando quem vê pela frente. Fui alvo de sua lente, mas bom seria também ficar na linha de mira daquele coraçãozinho alagoano com jeito de arretado.

Gilson Sousa

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Urubu na carniça: que delícia



É como urubu na carniça mesmo. Talvez por isso o jornalismo seja tão excitante para muitos. Assim como é para mim. Digo isso porque mais uma vez testemunhei da minha varanda a movimentação de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos de jornais bem na portaria do condomínio em que moro. Todos no faro da Polícia Federal, que estava no local com viaturas e agentes, cumprindo um mandado de busca e apreensão num dos apartamentos.
Pelo o que soube, trata-se de um problema com uma empresa que opera com internet a cabo no condomínio, supostamente de maneira clandestina. A denúncia à Anatel, que é um órgão federal, partiu do próprio síndico, Ailton Coelho de Carvalho. E curiosamente, a empresa de internet em questão pertence ao tenente coronel PM Eliezer Santana, aquele que recentemente estava preso, após polêmico envolvimento no episódio do Presídio Militar.
Pois bem. Em poucas horas, na parte da manhã, o enxame de jornalistas foi intenso. TV Sergipe, TV Atalaia, TV Aperipê, Jornal da Cidade, Correio de Sergipe, Infonet, enfim, uma infinidade de representantes de veículos de comunicação em busca de informações na portaria. E eu só observando. Mas num determinado momento desci e colhi informações mais precisas sobre o caso. Aí, confesso, telefonei para amigos produtores e pauteiros, fiz imagens e até repassei pequenos textos para sites de amigos. Não tem jeito. Tá na veia. É a cachaça do jornalismo se manifestando e a gente se embriaga de prazer.
A movimentação de todos, a busca de uma informação exclusiva por cada um dos profissionais, o melhor ângulo para os fotógrafos, o trabalho paciente dos agentes federais, enfim, tudo isso é excitante mesmo. O fato lamentável é que ainda não praticamos um jornalismo mais completo. Ou seja, mais intenso, mais investigativo, mais atraente. Digo isso porque vi que todos os colegas que chegaram no local, colheram suas informações, fizeram suas imagens e caíram fora.
Não esperaram sequer resultados mais concretos da operação, já que a polícia federal permaneceu na área por muito mais tempo. Sei que televisão, principalmente, trabalha contra o tempo. Mas falta vontade em alguns repórteres, perspicácia em outros, ousadia na maioria e espírito investigativo em todos. Ninguém esperou por um possível flagrante, um furo, sei lá. Só sei que vi, da minha varanda, as viaturas indo embora, no começo da tarde, repletas de malotes e outros objetos nas mãos dos policiais. Será que a carniça era saborosa?

Gilson Sousa

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Assessor de imprensa é jornalista?



Acabo de voltar do 17º Encontro Nacional de Jornalistas em Assessoria de Comunicação (Enjac), realizado em Goiânia até ontem, domingo. Cerca de 400 pessoas, entre jornalistas profissionais, professores da área de comunicação e estudantes participaram do evento que teve o apoio da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). Muitas palestras bacanas, incluindo as dos professores Manuel Chaparro (USP) e Josenildo Guerra (UFS). Os dois debateram com a platéia sobre ‘o conhecimento do Jornalismo na Assessoria de Imprensa’.
Pois bem. A partir destas palestras, algumas pessoas levantaram o questionamento sobre a identidade real do assessor de imprensa no contexto de um órgão público ou privado. Ou seja, começaram a questionar se um assessor de imprensa é mesmo um jornalista. Uma coisa meio absurda, mas que tomou conta do encontro durante muitos instantes. Ainda mais quando o veterano jornalista Armando Rollemberg, sergipano que hoje dirige a TV Senado, em Brasília, colocou mais pimenta no tempero.
Também como palestrante, Armando ficou em cima do muro nessa questão. Citou vários exemplos de países que não consideram o assessor de imprensa como jornalista e nas entrelinhas apoiou uma declaração absurda do colega Ricardo Noblat, de O Globo. Segundo Armando, Noblat defende a tese de que assessor não é jornalista porque não trabalha na linha do denuncismo. Apenas divulga o interesse do patrão. Mas vem cá: desde quando jornalismo é só denúncia? Quanta ignorância desse Noblat.
Enfim, para mim, que sou jornalista sim e no momento assumo a função de assessor de imprensa, essa discussão deveria estar superada há tempos. O fato de isso acontecer em outros países não significa que no Brasil tenha que ser assim. Nossa cultura comunicacional é outra e precisa respeitar suas particularidades. Até porque a imprensa por aqui não sobreviveria sem a produção das assessorias de comunicação. Tenham certeza disto.
A propósito, uma colocação do professor Chaparro me chamou a atenção. Para ele, mais que uma assessoria de imprensa, o que existe hoje é uma ‘assessoria de fonte’. Sábias palavras. E tanto ele quanto Josenildo Guerra defendem que há jornalismo nas assessorias de imprensa sim. Os dois enxergam avanços no processo de comunicação a partir da estruturação das assessorias. E eu digo: num momento em que a luta da categoria precisa ser focada no restabelecimento da exigência do diploma para o exercício da profissão, debates como esses não contribuem em nada.

Foto 1 - Palestra de Chaparro e Guerra
Foto 2 - Jornalistas questionando Armando Rollemberg

Gilson Sousa