segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não existe jornalismo investigativo em Sergipe


Sou partidário de que devemos sempre aplaudir o trabalho investigativo da grande imprensa no Brasil. Em geral, quando essa investigação trata de corrupção ou mazela do serviço público, acaba trazendo resultados positivos à sociedade. Isso, é claro, quando as autoridades se interessam pelas providências.
É bacana acompanhar o trabalho dos grandes jornais e revistas do Sudeste, assim como as investidas das grandes emissoras de televisão quando não medem esforços para desnudar fatos que envergonham o país. Pena que isso não é regra entre os veículos de comunicação. A grande maioria, mesmo consciente do seu grande poder, prefere se omitir ou se limitar ao factual.
Esse é o caso local. Há tempos não se tem registro de reportagens investigativas de grande impacto na nossa imprensa. Até parece que na política, na economia, ciência, indústria, tecnologia, educação, em nenhum desses setores existe algo de muito bom ou muito ruim para ser contado. Preferimos nos deter ao factual. E onde está a culpa ou o culpado?
O fato é que não há interesse e muito menos investimento nesse tipo de atividade jornalística por aqui. Os ‘patrões’ não ligam para isso. Os ‘leitores’ e ‘telespectadores’ não ligam para isso. Boa parte dos jornalistas não liga para isso. As autoridades, vixe Maria, é que não ligam mesmo para isso.
Os jornais impressos, telejornais, emissoras de rádios e veículos da internet, em geral, publicam simplesmente releases ou notícias factuais. Em muitos casos, alguns deles mais parecem um mero ‘boletim de ocorrência policial’, tamanho é o destaque dado aos assassinatos, assaltos e outras atrocidades da cena social. Conclusão: não existe jornalismo investigativo em Sergipe.
Nas boas rodas de conversa, há quem sustente que mesmo o ‘factual’, se trabalhado com extrema inteligência, pode virar uma notícia interessante. Mas, com todo respeito, cadê essa ‘extrema inteligência’? Aonde ela se escondeu? O que se crê é que temos por aqui profissionais da comunicação qualificados. Temos equipamentos. Temos histórias. Nos faltam envergadura moral, investimento e boa vontade.
Como todos sabem, para se construir uma reportagem investigativa não bastam um, dois ou três dias de trabalho. Não bastam um repórter, um cinegrafista/fotógrafo e um auxiliar. É preciso muito mais que isso. E é aí que entra a falta de interesse de muitos que comandam as redações locais. Uma pena.
A propósito, falando em jornalismo investigativo, uma ideia bem sucedida da Rede Globo é o quadro ‘Câmera do JH’, exibido quase que diariamente no Jornal Hoje. Em geral, a produção do telejornal investiga alguma irregularidade cotidiana no meio social e com uma câmera escondida captura as imagens, constitui a prova e exibe aos telespectadores. Foi assim com a ação criminosa de manobristas e flanelinhas Brasil afora, e também com o comércio de diplomas falsificados.
Mas esse quadro é apenas um aperitivo. As investigações jornalísticas mais profundas costumam fazer estragos de maiores proporções. Recentemente, aliás, a própria Rede Globo descobrir um esquema corrupto nas licitações da Saúde pública no Rio de Janeiro e o fato pode mudar a postura desse processo daqui pra frente. Ponto para a sociedade. Lamento apenas a transformação do caso num circo que ocupa quase 100% do tempo de seus telejornais, inclusive o Nacional. Mas esta é outra discussão.

Gilson Sousa