segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tragédia humana é o filé do telejornalismo no Brasil


Pelo visto, mostrar as variadas tragédias provocadas e sofridas por seres humanos é o que há de mais valioso no telejornalismo brasileiro. Basta constatar as principais chamadas diárias: assassinatos, seqüestros, acidentes aéreos ou terrestres, corrupção política, graves problemas administrativos, fome e miséria. Esse é o cardápio diário do telejornalismo que alavanca audiência no Brasil. Falar de coisa boa, só no final da edição. E olhe lá!
Para comprovar essa teoria, mostro a conquista do Jornal Nacional, da Rede Globo, que faturou o prêmio Emmy Internacional, na categoria notícia. Dizem que corresponde ao Oscar da televisão. E com qual notícia a Globo ganhou? Miséria, é claro. Foi com a cobertura da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado. Nesse caso, o Jornal Nacional concorreu com a cobertura da retomada do Conjunto de Favelas do Alemão, pelas forças públicas de segurança. Foi uma bagaceira, sempre evidenciando o poderio da bandidagem diante do Estado.
Na cerimônia de premiação, dia 26, em Nova York, o jornalista William Bonner, editor e apresentador do JN, disse que nos últimos nove anos, o telejornal esteve sete vezes colocado entre os quatro melhores do mundo. E sempre com reportagens enfocando a miséria e a tragédia. Em 2002 havia sido finalista do Emmy com a cobertura dos atentados de 11 de setembro. Em 2005 concorreu com as reportagens sobre a reeleição do ex-presidente George Bush.
Em 2007 com a Caravana JN, que percorreu o Brasil em 2006 mostrando o atraso e a precariedade do nosso país em variados setores. No ano seguinte concorreu com a cobertura do acidente do Airbus da TAM, em São Paulo. Em 2009, a indicação veio com a reportagem sobre o caso da jovem Eloá, sequestrada e morta pelo ex-namorado em Santo André, no ABC Paulista. Um ano depois, o JN chegou de novo à final com a cobertura do apagão de energia em 18 estados que afetou milhões de pessoas. Ou seja, notícia boa não dá Ibope. E muito menos premiação.

Gilson Sousa

Um comentário:

  1. Não mesmo e olha que não é só aqui. As indicações são feitas nos EUA. E, poxa, esse prêmio um amigo meu ganhou e ele mereceu pelo trabalho. Confesso que festejei muito o prêmio. Não pela GLOBO, mas pelo Carlos Jardim, um dos 'vencedores'.

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