sexta-feira, 20 de março de 2009

Os ingratos


Ingratidão é coisa feia. Nos últimos anos, tenho colecionado na memória registros de artistas muito queridos pelo povo aracajuano, mas que andaram pisando na bola e cometendo atitudes pouco simpáticas à coletividade. São astros da música nacional, em geral, que em determinados momentos demonstraram enorme desprezo pela nossa terra e isso não pode ficar assim tão barato. Afinal, um pouco de bairrismo e auto-estima não fazem mal a ninguém.
Vou começar pelo baiano Netinho, hoje um cantor de axé bem apagado, diga-se de passagem. Todavia, no auge da carreira, gravou em 1996 um disco histórico em Aracaju, no então imponente Augustu’s. O disco foi um estouro, abriu as portas para outros do mesmo gênero e projetou o rapaz no cenário nacional. Acontece que em momento algum do show, pelo menos no que foi editado no disco, o baiano ingrato cita o local ou sequer agradece à cidade. Quem não leu o encarte, jamais ficou sabendo que o disco foi gravado em Aracaju. Mas depois disso, Netinho ganhou titulo de cidadania aracajuana na Câmara de Vereadores.
Já o pessoal do Chiclete com Banana, também da Bahia, fez pior. Em 1997 gravou uma música chamada Menina do Cateretê, reverenciando grande parte das capitais do Nordeste e Sudeste, além de cidades como Campina Grande, Vitória da Conquista e Ilhéus. Esqueceu de Sergipe, é claro. Dizem até que o grupo que sempre enche os bolsos de dinheiro nas festas por aqui foi repreendido pelo empresário Fabiano Oliveira. Daí, numa regravação da música ao vivo, limitou-se a dizer na cara de pau: “Aracaju, estou de bem com você”. Até hoje é reverenciado pelo público.
Partindo para o forró, nosso maior chamego, a ingratidão vem do pernambucano Alceu Valença. No disco Andar andar, de 1990, ele gravou uma música chamada Tournée Nordestina. Fala exatamente do roteiro do forró na região Nordeste, citando as grandes festas juninas. Mas adivinhem quem ficou de fora. Sergipe, é claro. Nenhuma citação, sequer à festa de Areia Branca, que na época estava no auge, ou Estância, que sempre foi conhecida nacionalmente. Na cabeça dele, a tournée que merecia destaque passava só por Campina Grande, Caruaru, Arapiraca, Paulo Afonso, Petrolina e Arcoverde. Hoje, o ingrato Alceu Valença está entre os grandes nomes do Forró Caju.
Vamos lá. Quando completou 150 anos, em 2005, Aracaju fez uma grande festa e chamou o mineiro Milton Nascimento para cantar em praça pública. Empolgado, o prefeito de então, Marcelo Déda, resolveu homenagear o artista com a medalha do mérito cultural da cidade. Isso em pleno palco montado na praça dos mercados municipais, diante de milhares de pessoas. Mas para quê?. Com olhar de desdém, Milton Nascimento limitou-se a dizer que levaria a tal medalha para guardar em sua casa, junto com tantas outras que já havia recebido por aí afora. Foi horrível.
No esporte também vivemos esse drama da ingratidão. O episódio mais famoso, porém, é o do jogador de futebol Nunes, ex-centroavante do Flamengo, do Rio de Janeiro, que brilhou ao lado de Zico, Adílio, Andrade e outros na década de 1980. Pois bem. Nunes nasceu e se criou no município sergipano de Cedro de São João, mas sempre fez questão de dizer lá fora que é baiano. Nega até a morte a sua terra natal. Um ingrato sem coração e sem causa, esse rapaz.
Voltando aos baianos, o que dizer do tal de Asa de Águia? Recentemente o grupo de Salvador, ruim pra caramba, gravou disco ao vivo comemorando alguns anos de carreira. Escolheram seis capitais para as imagens, entre elas Natal e Salvador. Até aí, tudo bem. Mas o problema é que a banda de axé, ingrata da cabeça aos pés, esqueceu que tudo para eles começou exatamente em Aracaju, quando foram convidados para a primeira edição do Pré-Caju. À época, aquela representava a primeira apresentação do grupo fora de Salvador. Mas nem isso convenceu os rapazes a incluir a capital sergipana no roteiro das gravações. Tudo bem. A ingratidão tem várias faces.
Por fim, recentemente vimos por aqui o jovem sambista carioca Diogo Nogueira, filho do saudoso João Nogueira, também se apoderar da ingratidão com nossa terra. Isso porque concedeu inúmeras entrevistas na imprensa local e em nenhuma delas citou seu lado sergipano, já que o avô paterno, João Batista Nogueira, era nosso conterrâneo. Aliás, o avô do menino era advogado de respeito e músico. Foi morar no Rio de Janeiro, mas voltou a Sergipe transferido pelo Tribunal de Contas. E o Diogo, no rol da ingratidão, omitiu o fato nas entrevista e até durante o show que fez em Pirambu. Êita povinho sem coração.

Gilson Sousa

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