domingo, 29 de novembro de 2009

É a vez do Mengão!


Todos os ventos e todos os deuses do futebol estão a favor do Flamengo nesta reta final de campeonato brasileiro. O time – meu time – é líder isolado. Venceu hoje o Corinthians por 2 a 0, em São Paulo, e basta uma vitória simples contra o Grêmio no Maracanã, domingo que vem, para levantar a taça pela primeira vez na era dos pontos corridos.
É claro que essa vitória fará um bem danado para o país. Eu, você e todo mundo sabe que mais da metade da população brasileira torce pelo Flamengo. O restante fica se mordendo o tempo todo. Muito mais do que um time de futebol, o Flamengo é uma Nação e portanto merece a admiração de todos.
Resta agora o time confirmar em campo todos os prognósticos favoráveis. No domingo que vem, 90 mil torcedores estarão no Maracanã. Outros milhares estarão em frente aos aparelhos de TV e telões desse Brasil afora acompanhando cada lance da partida. Será uma expectativa de 90 minutos que poderá acabar numa explosão de alegria jamais vista nestas terras.
Sim, porque o Flamengo vencendo um campeonato nacional pela sexta vez – a última vez foi em 1992 – a economia do país se movimenta, as pessoas ficam muito mais felizes, o futebol ganha mais graça, as crianças se divertem muito mais, os bares e restaurantes ganham mais dinheiro, os casais fazem muito mais sexo, os padres rezam missas mais festivas, os pais e mães liberam mais mesadas, enfim, a vida vira uma festa. E viva o Mengão, rumo ao hexa!

Gilson Sousa

sábado, 21 de novembro de 2009

O Leão rugiu, senhoras e senhores!


Avisem ao mundo: o Leão rugiu pra valer. Depois de 22 dias confinado num leito de UTI, no Hospital São Lucas, o velho guerreiro Cleomar Brandi recebeu alta médica e está indo se recuperar num apartamento do próprio hospital. Daqui a mais uns poucos dias estará em casa, onde receberá visitas e mais visitas dos amigos, admiradores e afins. Esse é o velho Cléo.
A propósito, o Leão mudou de aparência. Deixou de lado aquela velha barba e os cabelos longos, como na foto aí. Está praticamente de cara limpa, como se estivesse dando início a uma vida nova. O que não deixa de ser verdade. É o nosso Benjamim Button. Um renascimento espetacular. Ainda mais quando lembramos da angústia diária por conta do seu sofrimento durante a estressante estadia na UTI. Xô!
Cleomar, para quem não sabe, foi submetido a uma delicada cirurgia de retirada do intestino grosso. É que nele havia um incômodo e indesejável caroço. Mas foi embora, graça a Deus. Logo após essa primeira cirurgia, ainda no leito da UTI, Cleomar teve que fazer outra. Dessa vez uma hérnia de disco. Vida dura pro Leão de 63 anos.
Mas ele suportou. Aliás, ele suporta. Suporta a dor no corpo. A dor das escaras. A dor da solidão hospitalar. A dor da distância dos amigos. A dor da ausência do conhaque. A dor do coração inseguro. A dor de viver. “Minhas noites têm sido dolorosas, Negão. É a hora em que o filho chora e a mãe não vê, nem ouve”, disse-me Cleomar recentemente, apertando minha mão com força considerável e revelando com os olhos que a história está lhe dando outra chance para que todos nós possamos aprender com ele o que é realmente viver.

Gilson Sousa

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tatuagem com a cara da hipocrisia


Nos últimos anos, toda vez que ouço falar alguma coisa sobre a vida de Roberto Carlos fora dos palcos, acabo sendo surpreendido como um alto grau de canalhice daquele cantor. Que me perdoem os fãs mais ardorosos. Mas não suporto aquele ar de superioridade do cara, só porque foi ídolo de uma geração antiga, diga-se de passagem. Portanto, jamais iremos negar os méritos dele, mas também não dá para ficar engolindo corda a vida toda.
Sempre soube que ele, desde os tempos da jovem guarda, foi e é um sujeito discriminatório. Não é todo mundo que pode chegar perto dele. Ainda mais se estiver usando roupas cuja coloração não esteja de acordo com o estado de espírito dele. É mole? “É mole, mas sobe!”, como diria o nosso José Simão, da Folha de S. Paulo.
Pois bem. Eis que hoje eu abro a internet e vejo estampada na página principal do IG (www.ig.com.br): “Roberto Carlos dá entrevista para Adriane Galisteu e diz que fará uma tatuagem”. Um choque psíquico. Quase não acreditei. É hipocrisia, sim. Não que uma tatuagem tenha algo de sujo, de errado. Mas o puritanismo do cara, sustentado há anos, cai por terra. É ou não é? Ou é somente uma jogada de marketing para vender uns disquinhos a mais com a foto da tatuagem na capa neste final de ano? Sei não. “Ele me contou que malha todos os dias e que vai fazer uma tatuagem!”, confirmou Galisteu.
Então é por essa e outras que continuo aplaudindo a piada do falecido humorista Espanta, quando ele diz para a esposa que o seu amor por ela é maior do que o amor de Roberto Carlos pela também falecida Maria Rita. “Então prove!”, desafia a esposa. “Então, morra!”, sugere Espanta. Esse é o nosso rei, não sei de quê.

Gilson Sousa

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Árvore da discórdia


Remoer a dor dos outros nunca foi bom negócio para ninguém. Na história, somente os mesquinhos e masoquistas teimam em colocar em prática tal situação vexatória. A dor, seja ela nossa ou dos outros, precisa ser respeitada ao extremo. Até acalentada. Mas jamais reverenciada ou até mesmo utilizada como pano de fundo para disfarçar um sentimento repugnante. E sendo assim, a Energisa – empresa privada que fornece energia elétrica aos sergipanos – jamais deveria pensar em montar novamente a famigerada árvore de Natal que em novembro do ano passado caiu e matou quatro trabalhadores.
Sim, essa árvore com ares de assassina deixou de ser é um símbolo de alegria, de paz, de fraternidade, de natalidade, do nascimento de um novo homem que viria para salvar o mundo dos pecados, conforme a Bíblia. Essa árvore passou a ser símbolo de um martírio. Uma espécie de casa de mortos, já que por ali, naquele pequeno banco de areia entre os rios Poxim e Sergipe, vagam as almas dos operários Anselmo de Almeida, Fábio dos Santos Melo, Cleidivan Alves e Fred dos Santos. Se for montada, estará mais para um monumento aos mortos, que um monumento ao espírito natalino do povo sergipano. Tenham certeza disso.
Senão, digam-me, senhores e senhoras, quem deixará de lado a lembrança daquela tragédia ao ver novamente a imponente árvore brilhando nos arreadores da Coroa do Meio? Quem, entre nós, não ficará indignado quando souber que sequer as indenizações às famílias dos mortos foi resolvida judicialmente? Quem baterá palmas diante dos cento e tantos metros de altura que enterram vítimas de uma ganância por uma citação no Livro dos Recordes? Quem será capaz de acalentar tanta insensibilidade? Quem?
Aliás, li num blog local que a notícia da montagem da árvore da Energisa novamente não agradou em nada a dona de casa Luciana Teles de Oliveira, viúva do eletricista Anselmo de Oliveira, vítima da tragédia. “Eles deveriam esperar passar esse ano para pensar em montar de novo a árvore. Tudo está muito recente, ainda dói muito, e ver a árvore lá, vai doer mais ainda”, disse a senhora, coberta de razão em tudo.
Ademais, como bem expressou o poeta Amaral Cavalcanti, aquela coisa lá longe, em meio às bostas das quatro bocas, não empolga. “Se estivesse cá, com nós bem perto, seria maravilhoso curtir o seu tamanho. Então, o local está errado”, defende. De fato, montada naquele ponto, distante de todo mundo, a árvore não nos dá a exata dimensão de sua grandeza. Bom seria, já que querem montar mesmo, que fosse em local aonde pudéssemos passar por baixo, olhar para o alto e admirar a imensidão das luzes. Mas isso sem que nos ofereça o risco de cair. Até porque já basta, né.
Assim como basta essa história de que o passado é simplesmente passado. Não. Quando se trata de vidas perdidas, o passado precisará sempre ser respeitado. A Energisa, que parece não ligar para dor alguma, até poderia buscar outro local para montar sua árvore natalina. Dentro do Parque da Sementeira, sei lá. No alto do Morro do Urubu, na Atalaia. Só não vai ficar legal ali no mesmo local aonde quatro vidas foram cruelmente ceifadas. É assim que penso.
E não como diretores da empresa, que mesmo diante de adversidades alegam não poder deixar de lado uma tradição de 21 anos. “Temos que mostrar que somos grandes, no sentido de que não podemos esmorecer diante das dificuldades. Nossa vida é feita de obstáculos”, afirmou um diretor, em entrevista coletiva à imprensa. “Algumas pessoas vão criticar a montagem da árvore, mas sabemos que será a minoria. Fizemos uma pesquisa e constatamos que a grande maioria está a favor da montagem. E é com o aval do aracajuano que vamos manter essa tradição acesa”, disse o moço, sem noção do mal que está fazendo, ao menos, às famílias enlutadas.

Gilson Sousa