terça-feira, 24 de março de 2009

Essa foi para o Cleomar...


Em janeiro de 2003, quando o camarada Cleomar Brandi completava seus 57 anos de vida, resolvi escrever uma singela crônica em forma de homenagem ao amigo de tantas horas e momentos compartilhados de forma leal e proveitosa. Dias antes, tínhamos voltado de uma viagem a Salvador, onde ele participou de um dos encontros mais emocionantes que já testemunhei. Era o “Encontro dos Amigos da Ladeira dos Aflitos”, coisa de gente que conviveu junto na adolescência há 30, 40, 50 anos. Então, longe daqueles amigos há tempos, Cleomar foi recebido na ocasião como rei. E eu gostei do que vi. Originalmente, o texto “Lição de amor” foi publicado no Jornal da Cidade, justamente no dia 18 de janeiro, aniversário do cara. Confesso que para esta postagem, precisei fazer alguns pequenos retoques. E sendo assim, dedico-a a amiga Beatriz Allan, pessoa querida pelo Cleomar (por mim também), e Lili, outra jóia rara na vida da gente. Eis:


Lição de amor

“Leonam está vivo”, gritou de lá um mulato compenetrado com o sugestivo apelido de Atum, bem à frente da Igreja dos Aflitos, em Salvador. “Mais que nunca”, respondi com o pensamento, ao fixar os olhos na alegria do companheiro Cleomar Brandi. Era um domingo bonito, 15 de dezembro de 2002, e estava eu ali em terra baiana acompanhando um encontro histórico entre pessoas que curtiram junto a infância e adolescência por volta dos anos 50, 60 e 70 naquela capital. Hoje, esse pessoal traduz-se num bando de ‘coroas’ bem humorados e bem sucedidos, graças ao Senhor do Bomfim, creio.
Cleomar, que para todos eles era o tal Leonam (referência a uma máquina de costura antiga que fazia um zig-zag magnífico), estava longe dos amigos há anos. Quase ninguém por lá sabia do seu paradeiro após ser acometido por uma doença misteriosa que arrancou-lhe o prazer das caminhadas ainda na adolescência. Mas nada que reduzisse sua força. Nada que o impedisse de esbanjar vontade de viver e ser feliz no horizonte dos seus próprios passos, ainda que numa cadeira de rodas, é bom dizer.
Sendo assim, por essas razões, Cleomar foi o personagem mais festejado naquele encontro memorável de velhos amigos, saudado pela beleza da Baia de Todos os Santos e entre as folhagens do Passeio Público de Salvador.
Naqueles momentos, o velho ‘bruxo’ da cadeira de rodas que só falta falar, foi mais do que o Cleomar que conhecemos nas redações de jornais, emissoras de tv e mesas de bar. Era um senhor amado e reverenciado. Um sujeito que segurava a emoção a cada história peralta que a toda hora era relembrada pelos antigos companheiros de meninice. “Era o melhor nadador que Salvador já viu”, “o maior ladrão de manga do Passeio Público”, “o cara que mais driblava nos babas (jogo de futebol)”, “um paquerador incorrigível”. Enfim, pelo que eu pude perceber, lá pelos idos dos anos 60, ele já era um cara e tanto.
E hoje? Pois bem. Hoje é o cidadão sergipano mais paparicado nessas bandas de cá. Movido a um bocado de conhaque, sempre em dose dupla, e um punhado de afeto, Cleomar é o jornalista que todos nós queríamos ser um dia. Tamanha é a sua competência e intimidade com a profissão.
Sendo assim, faço a defesa da tese de que todo bom cidadão merece, ao menos uma vez, compartilhar uma mesa de bar com ele para aprender um pouco mais sobre vida, carinho, atenção, magia, responsabilidade, cumplicidade, e acima de tudo, amor. O amor já demonstrado a incansável e doce Cleonice, sua mãe, aos irmãos de sangue, às mulheres representadas na figura da eterna Arlinda, aos amigos de todas as horas Zé Eduardo, o médico, e Américo, além dos agregados que compartilham do seu convívio diário.
Hoje, então, após esses 57 anos de existência e resistência, é dia e hora de tirar o chapéu para esse baiano que está, repito, mais vivo que nunca. Parabéns por mais esse aniversário, Cleomar. E que essa lição de amor que a cada dia você prega entre os merecem recebe-la, seja prolongada e disseminada até que os homens aprendam que o ato de viver bem requer tão somente a carga de simplicidade contida no seu coração de menino. É isso.

Gilson Sousa

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Lindíssima homenagem! Cada dia admiro mais meu amigo Cleomar e a amizade de vocês. Cada história é um prazer sem fim.
    Ah! Obrigada pela lembrança.

    ResponderExcluir
  3. Quando li tudo, não pude segurar esse meu coração tão baiano, tão praieiro, tão musical e boêmio. Invejável esse carinho intercambiado entre vc e Cléo. Temos sempre os nossos Quixotes, e quem não queria ter um Quixote como Cléo. Bj do seu painho Samuca.

    ResponderExcluir
  4. o paí o, tens o mesmo nome q eu faz aniversario um dia antes de mim, lendo essa homenagem, foi um presente e tanto de aniversario e levantou minha alto estima. um abraço de cleomar lima de brasilia

    ResponderExcluir