quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vizinho de viagem


Chico Ribeiro Neto é jornalista (chicoribe@gmail.com)

Ter um vizinho de poltrona desconhecido, numa viagem de ônibus ou de avião, pode ser um prazer ou uma chateação. Todo mundo tem uma história de alguma viagem em que teve um vizinho “mala”, engraçado ou interessante.
Uma vez, num ônibus urbano, em Salvador, uma criança no colo da mãe vomitou bem no meu colo. Detalhe: eu era repórter da “Tribuna da Bahia”, estava de terno e tinha entrevista marcada com o secretário de Educação, que despachava na Graça. Outra vez, viajando pra Ipiaú, um gordão sentou do meu lado. O cara ocupava uma cadeira e meia.
Mas nada mais curioso do que a companheira de viagem que se sentou ao meu lado, num ônibus de Aracaju para Salvador. Simpática e atenciosa, com poucos minutos de prosa ela me disse que praticava a urinoterapia, esse negócio de beber a própria urina. Disse que um dos líderes “já esteve em Jô Soares”.
Animada, passou a contar os benefícios da inusitada terapia, assegurando que “a melhor urina é a primeira do dia, a que traz mais benefícios”. Prefiro a cerveja em estado natural.
Minha primeira informação da urina como remédio foi prestada pelo meu irmão, Cleomar, quando foi, adolescente, à Gamboa do Morro, vizinho a Morro de São Paulo. Pisou no ferrão de um peixe chamado “pucumã” (em Salvador conhecido como “beatriz”), que fica escondido na areia da praia, só com o ferrão pra fora. Teve febre, frio e dor de cabeça. Um pescador ensinou o remédio a uma tia minha: uma moça virgem tinha que urinar em cima do local. Uma prima foi a convocada, mas primeiro mandou Cleomar fechar os olhos.
Animada, minha companheira de viagem continuava a descrever os benefícios da urinoterapia. Paciente, limitei-me a ouvi-la, sem fazer nenhum comentário. Discordar poderia até ser perigoso. Só fiquei preocupado quando ela levantou-se para ir ao banheiro do ônibus: “Será que na volta vai me trazer algum suquinho?”

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