quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Urubu na carniça: que delícia



É como urubu na carniça mesmo. Talvez por isso o jornalismo seja tão excitante para muitos. Assim como é para mim. Digo isso porque mais uma vez testemunhei da minha varanda a movimentação de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos de jornais bem na portaria do condomínio em que moro. Todos no faro da Polícia Federal, que estava no local com viaturas e agentes, cumprindo um mandado de busca e apreensão num dos apartamentos.
Pelo o que soube, trata-se de um problema com uma empresa que opera com internet a cabo no condomínio, supostamente de maneira clandestina. A denúncia à Anatel, que é um órgão federal, partiu do próprio síndico, Ailton Coelho de Carvalho. E curiosamente, a empresa de internet em questão pertence ao tenente coronel PM Eliezer Santana, aquele que recentemente estava preso, após polêmico envolvimento no episódio do Presídio Militar.
Pois bem. Em poucas horas, na parte da manhã, o enxame de jornalistas foi intenso. TV Sergipe, TV Atalaia, TV Aperipê, Jornal da Cidade, Correio de Sergipe, Infonet, enfim, uma infinidade de representantes de veículos de comunicação em busca de informações na portaria. E eu só observando. Mas num determinado momento desci e colhi informações mais precisas sobre o caso. Aí, confesso, telefonei para amigos produtores e pauteiros, fiz imagens e até repassei pequenos textos para sites de amigos. Não tem jeito. Tá na veia. É a cachaça do jornalismo se manifestando e a gente se embriaga de prazer.
A movimentação de todos, a busca de uma informação exclusiva por cada um dos profissionais, o melhor ângulo para os fotógrafos, o trabalho paciente dos agentes federais, enfim, tudo isso é excitante mesmo. O fato lamentável é que ainda não praticamos um jornalismo mais completo. Ou seja, mais intenso, mais investigativo, mais atraente. Digo isso porque vi que todos os colegas que chegaram no local, colheram suas informações, fizeram suas imagens e caíram fora.
Não esperaram sequer resultados mais concretos da operação, já que a polícia federal permaneceu na área por muito mais tempo. Sei que televisão, principalmente, trabalha contra o tempo. Mas falta vontade em alguns repórteres, perspicácia em outros, ousadia na maioria e espírito investigativo em todos. Ninguém esperou por um possível flagrante, um furo, sei lá. Só sei que vi, da minha varanda, as viaturas indo embora, no começo da tarde, repletas de malotes e outros objetos nas mãos dos policiais. Será que a carniça era saborosa?

Gilson Sousa

Um comentário:

  1. Sabe que nunca tinha visto por esse ângulo? Na verdade, até me ofendia quando os atores das matérias nos chamavam de urubus. Mas é isso mesmo: a carniça é a engrenagem motivacional para nós jornalistas. E realmente é uma delícia. Parabéns por admitir isso. Que inveja tb por ter tido uma vista tão privilegiada. Jornalista que se preze quer sempre estar no meio da notícia!

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