quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O imortal do texto sóbrio


O fato havia passado em branco aqui no blog, mas agora retomo com muita satisfação. Em boa parte pelo merecimento, em outra pelo comentário de um amigo meu, Leonel Guimarães - um desses bons escritores que vivem encobertos pelo manto da timidez - sobre o poeta Amaral Cavalcanti, eleito recentemente para uma cadeira na Academia Sergipana de Letras.
“Para mim, em Sergipe é o escritor mais sóbrio que existe. Seus textos são muito bem construídos”, comentou Leonel. “E é mesmo”, respondi. “Só fico em dúvida em relação à sobriedade. Se você estiver se referindo ao texto, acertou em cheio. Mas se acaso o ‘eu poético’ do Amaral entrar em cena, aí será um dos escritores mais ébrios da atualidade. Com todo respeito”, complementei.
Sim, o velho Amaral, homem que possui nas veias e na memória tudo o que um bom poeta precisa, é chegado a um bom vinho ou wisky na hora de produzir. Aliás, parece ser um habito bem nosso. Ele, como tantos outros, tem a boemia como companheira, tem os afagos da noite, tem os amores de então, tem os quitutes mais saborosos, o vinho mais precioso, a palavra mais descabida, a brisa mais precisa, o uivado mais incomum, a visão mais prazerosa, o sussurro mais preciso, o diálogo mais conveniente, o papo mais convincente.
Por isso tanta sobriedade no texto do imortal. E aliás, com todo respeito aos demais membros, mas a Academia Sergipana de Letras tem a honra agora de abrigar como filho o mais sensível e verdadeiro dos poetas desta terra. E chama-se Amaral Cavalcanti, sim senhor. O outrora marginal, “um subversivo agente da contaminadora ideologia da cultura”, como disse o escritor Ezequiel Monteiro, agora vestirá o fardão acadêmico e, quem sabe, inovará nos encontros da entidade. Trocará o tradicional chá por boas doses etílicas. Não duvidem.


Gilson Sousa

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