domingo, 4 de abril de 2010

Diálogo de São Jorge


São Jorge mandou chamar yayá pro quiti. Não queria bater, só queria falar. Aí ele disse: só não tenho é tempo e paciência para acolher seus caprichos, minha yayá. Mas tenho curiosidade de montão. Queria saber primeiro porque nunca atende meus chamados exatamente quando preciso de você. Quase nunca sorri para mim, e isso abstrai meu cantarolar. Dificilmente diz não para mim, mas muito raramente diz sim. Então a espada vai ficar arrimada num canto do quiti também.
São Jorge gosta da gente. É o guerreiro que mais procura a paz. Se yayá não quiser, não precisa carregar o peso do mandú. O cavalo dele também é alentado. O que não pode é fazer de conta que o homi é presumido. Aí Jorge diz: não queira brincar com essa dança de amor. Se apegue ao bastão dos fortes. Amanhã, se o dia for nublado e o miringui aportar, estenda os braços. Yayá não precisa comprar medo, só precisa ouvir. Então esqueça essa dança.
São Jorge é por todos nós. O que veio, o que virá e o que já foi. Não tem dragão nesse mundo de Deus que resista à sua lança. Mas se o amor lhe pegar pra valer – só se for pra valer yayá – separe um perfume triscado e anoiteça com as flores. Aí Jorge vai lhe dizer pra sempre: a dança é breve, mas os passos continuam. Só consegue atravessar o amor quem lançar mão do aporongá pulsante e derrotar o monstro que yayá nenhuma consegue enxergar. Isso todo dia, meu Pai.

Gilson Sousa

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