segunda-feira, 10 de maio de 2010

Meu amigo, meu herói


Era dezembro de 1980 quando meu pai, amigo e herói, deixou essa terra. Eu era apenas um menino de 12 anos tentando entender o funcionamento da vida. Mas meu pai, Luiz Pedro Silva, até então era quem mais entendia dessa área. Sim, até porque foi um socialista convicto, pensava no bem comum a todos e trabalhava por esse ideal de vida numa época em que a ditadura militar tolhia impiedosamente muitos dos nossos direitos.
É imprescindível dizer que somente os comunistas não se intimidavam àquela época. E meu pai era um deles. Criado no interior de Sergipe, Siriri, quando colocou os pés na capital,nos anos de 1950, descobriu-se um jovem corajoso e idealizador. Sua origem humilde não lhe impedia de sonhar. E sem objetivos politiqueiros, como acontece em dias atuais, juntou-se a outros idealistas na tentativa de mudar o mundo.
Sim, mudar o mundo. Era tudo o que aqueles jovens queriam até então. E Luiz Pedro não arredou pé dessa idéia. Para tanto, integrou o Partido Comunista e por esse motivo pagou um preço alto. Mesmo contra sua vontade fez minha mãe, dona Marita, sofrer um bocado quando foi preso e torturado pelos militares. Isso já no final da década de 1960, quando o Quartel do 28 BC abrigava os temidos porões da ditadura.
Mas nada que o tirasse dos trilhos convictos do socialismo. Até porque Luiz Pedro teve amigos fantásticos durante a militância política, entre eles, José Nunes, pai do saudoso Célio Nunes e avô do meu amigo jornalista Cláudio Nunes. Foi camarada também do velho Gervásio Careca da banca de revistas. Outro comunista histórico e avô do meu amigo Max Prejuízo. Seu irmão, José Pedro, foi outro camarada iluminado e que lhe estendeu a mão em vários momentos difíceis da vida.
A propósito, todos esses personagens já partiram daqui, mas construíram uma história exemplar para todos nós. Ou melhor, constroem. Digo isso porque um personagem chave dessa história, graças a Deus, continua entre a gente. É Antônio Bittencourt, contemporâneo do meu pai e companheiro em várias batalhas. Dia desses tive o prazer de conversar um pouco com ele e ouvi relatos comoventes de um velho comunista. Parecia meu pai sussurrando ao meu ouvido.
“Esse modelo de vida que as pessoas têm hoje está na hora de acabar. O mundo é injusto para muita gente. O socialismo, como ideal de vida, não de politicagem, precisa ser implantado, e eu ainda tenho esperança de que isso vai acontecer”, disse-me o senhor de 84 anos. Aí eu vi os olhos de Luiz Pedro brilhando para mim feito estrela no céu em noite de espetáculo natural.

Gilson Sousa

Na foto, de 1978, estamos eu, meu pai e meu irmão mais novo, Ricardo, na avenida Coelho e Campos, local onde residíamos à época.

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Caro Gilson,
    Tenho muito orgulho do seu pai, que não conheci.

    Grande abraço,
    Rezende

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  3. Cabra arretado esse seu Luiz Pedro! Como ele, acredito que um dia essa sociedade repleta de injustiças e construída à base da exploração do homem pelo homem há de ruir e, em seu lugar, um novo modelo há de tomar sua forma: se não for o socialismo, que seja um outro modelo, mas onde se anulem as diferenças, todas elas. Caro Gilson, és um ótimo jornalista. Fica a sugestão de colher esses relatos e, quem sabe, publicá-los numa grande matéria, ou mesmo num livro.

    Abs

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  4. Interessante a história de seu pai, Gilson, você já tinha me falado algo sobre ele mas não sabia dos detalhes. Quem lhe conhece a muito tempo e lendo esse artigo, percebe que você tem ideais parecidos, pelo menos na época de estudante. Imagine ser contra os militares naquele tempo... realmente foi um corajoso. Olhando direitinho a foto, seu irmão (não lembo o nome dele agora), parece um pouco com ele. Engraçado é o nome do colega dele: Gervásio Careca.

    Isaac

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  5. Meu caro Gilson,
    Seu pai tinha têmpera de herói, algo que vai se tornando raro neste nosso mundo. Lutava pelos ideais que sempre norteiaram o homem probo em sua caminhada, independentemente de ser socialista. Há pessoas sem nenhum rótulo político que atravessam a vida semeando o bem, lutando contra a injustiça. A meu olhar, não somente ele, mas também seus descendentes se fazem grandes.
    Registro minha admiração pelos que não têm medo de lutar, e seu pai foi um desses.
    Abraço.
    M.Cardoso

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  6. Muito bom saber detalhes dessa história de coragem, que nos enche de orgulho.
    Esse briho que você viu nos olhos do Sr. Luiz Pedro, com certeza, permanece nos seus.

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  7. Gilson meu lindo , que bonita a historia do seu querido PAPI , vc tb é especial assim como ele foi , vc é um exemplo muito bonito e herdou isso dele tenho certeza....te adoro.....bjs..........

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  8. Belo referencial a ser seguido por todos os que almejam um mundo menos desigual

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